Gostaria de começar este artigo por falar das vantagens da autopublicação. Sei que existe algum estigma e reprovação por parte de muitas pessoas e por isso para muitos não é o melhor caminho a seguir.
“Não deve ser bom, nenhuma editora o quis”
“Deve ter pouca qualidade, não foi feito por profissionais”
Isto até pode ser verdade em alguns casos. Mas também é verdade que cada vez mais autores optam por esta via sem sequer considerar o caminho tradicional. As duas grandes vantagens da autopublicação são:
1) O CONTROLO
A história é nossa, a seleção da equipa que irá trabalhar connosco também. Somos nós que aceitamos a versão final da capa e que decidimos o PVP. Venda em livro físico ou e-book? Também decidimos isso. Claro que isto pode ser, ao mesmo tempo, uma desvantagem. Talvez pessoas mais experientes no ramo pudessem decidir melhor, porque sabem o que o mercado procura e o que vende nesse nicho. Mas com controlo e liberdade podemos ir testando, aprendendo e melhorando.
2) A PARTE FINANCEIRA
Esta é a que pode fazer mais diferença. Num contrato com editora tradicional podemos esperar 10% de royalties sobre o PVP sem IVA. Se o livro é vendido por 20€, são 18,8€ sem IVA, por isso 1,88€ para o nosso bolso por cada unidade. Na autopublicação recebemos a totalidade do valor do livro na nossa conta, mas as despesas também são assumidas por nós. Se o livro é vendido por 20€ e custou 8€, são 10,8€ para o nosso bolso por cada livro vendido.
Com os números do exemplo apresentado, vemos que é necessário vender quase 6 livros pela editora tradicional para ter o mesmo lucro de apenas 1 livro autopublicado.
É difícil viver exclusivamente da escrita com uma editora tradicional, a menos que sejamos autores de bestsellers que vendem centenas de milhares de unidades. Teríamos de vender 531 livros todos os meses para receber 1000€. Com a autopublicação, bastaria vender 92 para receber o mesmo valor.
Descrição | Autopublicação | Editora tradicional |
---|---|---|
Investimento inicial | Tudo pago por nós. Capa, paginação, impressão dos livros, ISBN | Nenhum custo |
Ganhos na venda | PVP menos IVA | 10-15% do valor de capa sem IVA |
Publicidade e divulgação | Autor | Autor + Editora |
Distribuição | Autor + parceiros | Editora |
Autopublicação não é para ti se…
- Queres apenas escrever;
- Precisas de apoio constante e incentivo para cumprires prazos e avançar na escrita;
- Não tens muito tempo/não queres tratar de toda a burocracia e processos envolvidos;
- Queres candidatar-te a prémios literários;
- Não queres fazer qualquer investimento inicial;
- Não queres tratar da parte logística da venda, envios e contratos;
- Não tens nem queres construir uma presença online junto dos leitores.
Autopublicação é para ti se…
- Gostas de escrever, mas também gostas da parte logística do negócio;
- Tens uma comunidade de leitores aos quais podes apresentar os teus livros diretamente;
- Não te importas com o “estigma” da autopublicação;
- Estás disposto a fazer um investimento inicial para ter um produto final com qualidade;
- Gostas de ter controlo em todos os processos;
- Queres optimizar os ganhos financeiros.
Não há uma resposta certa nem uma definitiva. Pode haver livros que faça sentido publicar com editora, porque têm um peso e uma capacidade de alcance gigante, e outros que seja mais vantajoso autopublicar.
Vamos então à parte prática, que é para isso que cá estamos.
PASSO 1: ESCREVER O LIVRO
Sim, é o primeiro passo óbvio mas às vezes esquecemo-nos disso. O entusiasmo é tal que queremos pôr a carroça à frente dos bois.
No meu primeiro livro autopublicado, ainda não tinha o livro a meio e já estava a tratar do merchandising e da campanha de lançamento. Não é que não fosse importante, mas estava a desviar-me do foco da tarefa do momento.
Escrever um livro não é tarefa fácil. O primeiro muito menos, porque é novidade e ainda não temos rotinas. É preciso encontrar forma de encaixar essa tarefa em todas as outras que já nos ocupam os dias. É preciso forçar as mãos no teclado nos dias em que estamos cansados e com pouca inspiração ou criatividade.
Posso garantir que há muitos tempo mortos nos passos seguintes para pensar em todas as tarefas que se seguem, por isso se estás a começar, faz apenas isto: escreve o teu livro.
PASSO 2: CONTRATA A REVISÃO E EDIÇÃO
A escrita e a edição/revisão são duas tarefas completamente diferentes. Podemos ser um excelente editor e péssimo escritor e vice-versa. Nós, como autores das palavras que estão no manuscrito, não conseguimos ter distanciamento suficiente para avaliar a estrutura, o conteúdo e muito menos as gafes.
Já lemos aquelas palavras tantas vezes que tudo faz sentido. Vários pares de olhos adicionais são necessários, e mesmo assim há sempre algo que escapa (e que irritante que é!).
Um profissional atento e com experiência pode fazer toda a diferença no resultado final. Poderá sugerir alterações/cortes/adições que nunca deverão ser vistos como um ataque pessoal. Eu sei que custa cortar ou eliminar coisas que demoraram tanto tempo a preparar e a escrever, mas temos de confiar ou, pelo menos, levar as sugestões em consideração (não somos obrigados a aceitá-las).
Esta fase demora sempre pelo menos um mês. A pessoa terá de ler e rever, nós temos de fazer as alterações e é feita nova revisão e possíveis novas alterações da nossa parte.
Enquanto ocorre a revisão/edição: procurar um designer para fazer a paginação e capa.
PASSO 2: CONTRATAR A PAGINAÇÃO E CAPA
As pessoas julgam o livro pela capa. Só se a capa e tema forem apelativos é que pego no livro e leio a sinopse.
É essencial contratarmos um profissional para a capa. Normalmente, e isto aprendi com o processo, é a mesma pessoa que faz a paginação e a capa.
Por isso este é mais um processo demorado. O designer poderá enviar um capítulo paginado para vermos se gostamos, e depois podemos contar com pelo menos um mês (depende das imagens e do tamanho do livro) para a paginação.
A capa poderá ser desenvolvida em paralelo com a paginação. Convém termos algumas ideias do que queremos para podermos dar indicações precisas ao designer. Se estivermos mesmo às aranhas e sem qualquer ideia (aconteceu-me), podemos enviar 4 ou 5 capas das quais gostamos, para demonstrar o tipo de apresentação que pretendemos.
Depois da paginação concluída, o PDF é enviado novamente para revisão, para limpeza final. Há erros que surgem nesta fase e que têm de ser retificados antes de passar para impressão.
Enquanto ocorre paginação e design da capa: procurar gráficas e pedir orçamento para impressão.
PASSO 3: PEDIR O ISBN
Com o título fechado, pedir o ISBN e passá-lo à designer, para poder incluir na ficha técnica do livro (aquela informação que aparece na primeira página).
O ISBN tem um custo, que pode ser consultado no preçário e demora apenas uns 2-3 dias úteis para ser emitido (não vale a pena pagar 50€ por pedido urgente). Podemos também comprar o código de barras, mas fala com o teu designer que ele pode conseguir fazê-lo de graça.
PASSO 4: IMPRESSÃO NA GRÁFICA
Aqui a coisa começa a ficar séria! Com o miolo e capa prontinhos, está na altura de transformar um ficheiro PDF em livro 😍
Na fase de pedido de orçamento, devemos ter o cuidado de enviar o mesmo pedido, claro e bem definido, para todas as gráficas. Só assim poderemos comparar os preços e ver qual é mais vantajosa.
Uma pesquisa no google permitir-nos-á descobrir que gráficas existem perto da nossa zona de residência. Não é obrigatório ser perto de casa, mas pode ser necessário ir lá ver a prova ou tratar de outras questões, pelo menos na primeira experiência.
Os preços aumentam bastante caso o livro seja a cores. Devemos ter isso em consideração para definir se o queremos e o respetivo PVP.
Assim que fechamos orçamento com uma gráfica, temos de lhes pedir o número de depósito legal (é a gráfica que trata), para o podermos passar ao designer para incluir também, juntamente com o ISBN, na ficha técnica da primeira página do livro.
Os prazos dependem do volume de trabalho da gráfica e não dependem muito do número de exemplares na tiragem , uma vez que há tempos de cola, secagem e etc que têm de ser sempre respeitados quer sejam 100 livros ou 1000. O normal é 10 dias úteis, ou seja, 2 semanas.
O ideal é pedir que os livros nos sejam entregues na morada à escolha (mesmo que tenha um custo adicional), porque não é em qualquer carro que cabem umas centenas de livros.
Enquanto o livro está a ser impresso: preparar o lançamento.
Passo 5: LANÇAR O LIVRO!
Tudo o que fizemos até então culmina nisto. Um livro perfeito, com aquele cheirinho bom a papel, finalmente nas nossas mãos e pronto a ser lido pelo mundo.
Os livros só têm de ser pagos à gráfica no momento em que os recebemos. Se abrirmos uma pré-venda uns dias antes de estarem connosco, podemos receber logo um valor que ajude a pagar esse investimento inicial.
Fiz os meus primeiros dois lançamentos no PPL, por desconhecimento de opções melhores. As campanhas tiveram muito sucesso (livro 1 e livro 2), mas com essa experiência apercebi-me de grandes desvantagens de fazer o lançamento aqui:
- Comissão de 10%. Automaticamente perdemos 10% de todo o valor recebido, uma vez que é a comissão da plataforma;
- Se não atingirmos o montante mínimo de financiamento, todas as contribuições/compras feitas até ao momento são canceladas. Ou seja, podemos estar a contar com 10 vendas e, afinal, porque não foi atingido o valor, voltar a zero;
- Apenas recebemos o valor no final. Mesmo que haja compras ao longo de vários dias ou semanas, o valor total apenas chega à nossa conta depois de a campanha ter sido fechada. Isto dificulta a gestão de dinheiro, uma vez que temos de pagar todos os custos à gráfica e só passado algum tempo recebemos o dinheiro na conta;
- O processo de envio e registo do estado das encomendas é todo manual e tem de ser feito com cuidado por nós.
Para os próximos usarei a loja online que criei recentemente. Coloco o novo produto, indicando que é pré-venda e que será enviado a partir de dia X. Assim garanto que o que recebo vai caindo na minha conta à medida que os exemplares vão sendo vendidos, ajudando nos custos iniciais da publicação.
Na fase de lançamento e na venda direta daí em diante faz sentido oferecer algo que noutra livraria não exista. Uns autocolantes, miminhos, dedicatória nos livros. A venda direta é a mais vantajosa financeiramente, por isso faz todo o sentido oferecer regalias que façam os leitores optarem por essa via quando decidirem comprar os nossos livros.
Vantagens da loja própria
Estou extremamente feliz por ter criado a loja online e de vez em quando dá-me assim uma pontada de irritação pela minha burrice – como é que demorei tanto tempo a fazer isto? É que tudo é infinitamente melhor, mais fácil e mais barato.
Processamento da encomenda
Vendendo no PPL, instagram ou Google Forms (sim, eu fiz isso 🫣), todos os registos tinham de ser manuais. Eu tinha de colocar no excel a morada da pessoa, o email, o nome, se já tinha enviado ou não e, se sim, o código de rastreio para se houvesse problemas na entrega. Houve enganos (menos do que o que seria de esperar) totalmente desnecessários.
Agora, de forma automática e sem falhas, sei que encomendas já foram pagas, se já estão preparadas e até se já foram entregues ao cliente.
Logística do envio
Todas as moradas eram escritas à mão. Eu vendi mais de 600 livros assim, por isso dá bem para ver o desperdício de tempo nesta atividade que não acrescenta qualquer valor.
Agora, assim que recebo alguma encomenda, apenas tenho de imprimir uma folha deste tipo, já totalmente preenchida, e colar na embalagem.
Pagamentos
As vendas diretas no instagram eram pagas por transferência bancária. Além do trabalho que isto dá: tinha de confirmar os comprovativos e associá-los a um e-mail para confirmar a compra, tenho a certeza que perdi muitas vendas por essa complicação desnecessária. Quem é que quer ter o trabalho de transferir para um IBAN para comprar um livro?
Agora, com a loja, é possível adicionar todo o tipo de pagamentos seguros e simples para o cliente. Tenho ativo MBWay, Cartão de crédito e referência multibanco.
Pago uma pequena comissão por cada venda (não há custos de subscrição, só se paga em função do que se recebe), mas pelo menos sabemos que tudo está seguro e que o dinheiro cai na nossa conta no dia seguinte à compra ter sido paga.
Preços de envio
Enquanto as vantagens anteriores me fizeram poupar (muito) tempo, esta fez-me poupar muito dinheiro.
O envio dos packs em correio registado nos CTT (não envio de outra forma, para não ter chatices) custava 7,90€ em 2023 e aumentou para quase 10€ em 2024. Mais de 25% do valor de venda ia para portes de envio (oferecidos).
Agora, posso usufruir dos contratos coletivos a preços muito mais vantajosos com CTT, DHL, etc. O tal pack, que custava praticamente 10€, agora é enviado em correio registado e entregue no máximo em 2 dias úteis por 4,85€. São 5€ diretos para o nosso bolso!
Há ainda uma grandeeee vantagem em enviar no correio expresso. Podemos tirar a senha B, dedicada a essa linha, que tem prioridade sobre as outras. Deixei de passar horas nos CTT à espera de vez na altura dos pensionistas irem receber as reformas 😂.
A minha opção
Estava indecisa entre shopify e shopkit, e após pesquisa acabei por me decidir pela segunda. O que queria era uma loja bem clean e simples, e sou uma totó assumida em tudo o que é tecnológico ou programável. O facto de a Shopkit ser portuguesa e com apoio ao cliente em português ajudou a firmar a decisão.
Optei pelo plano Biz, que permite o acesso aos contratos de expedição que falei anteriormente. O plano custa 26€ por mês e, pela diferença de envios que apresentei, basta vender 5 packs por mês para a subscrição estar paga. 6 packs e já estou a ter lucro com a loja online.
Isto sem falar em toda a poupança que não é mensurável. Todo o tempo que antes perdia com tarefas que agora evito pode ser usado para algo mais útil ou mais divertido.
O pagamento anual fica mais barato (plano Biz sai a 20€ por mês em vez de 26€), mas para começar usei o pagamento mensal, em breve alterarei para anual porque realmente é um descanso incrível.
O site oferece 30 dias grátis, que podem ser usados para montar a loja e fazer as primeiras vendas. Os templates são feitos e é só preencher os espaços com a informação que nos pedem, nada de complicado.
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Olá,
A parte quando dizes “Estás disposto a fazer um investimento inicial para ter um produto final com qualidade;”. Penso que trabalhar com editoras, que sejam profissionais e com pessoas competentes, podem alavanca mais a qualidade do produto final do que avançar de forma independente. Opinião pessoal.
Por isso é que os passos 2 e 3 estão aí e são tão importantes. Autopublicar não significa fazer tudo sozinho e publicar um livro amador e de pouca qualidade.
Significa contratar independentemente os exatos mesmos serviços que uma editora contrata, mas ter o trabalho de o fazer sozinho, só isso.
As pessoas com quem trabalhei têm vasta experiência no mundo editorial e trabalham ou já trabalharam com editoras. Em todos os ramos há pessoas a querer fazer renda extra 😁🙌