Como escolho os investimentos do mês

Esta é uma dúvida comum, quando se tem uma carteira diversificada. Como definir o investimento do mês? Dividir o valor disponível por todos? Se sim, de que forma? Ou será melhor reforçar os que estão a ter melhor desempenho? Ou investir nos que estão em saldos?

Este artigo é uma descrição da minha estratégia. Não é “a” estratégia. É só uma que resulta comigo e tem duas vantagens principais:

  • garante que o coração e emoções ficam fora da decisão;
  • evita gastar muito tempo com o processo, mensalmente.

Antes de começar

Tenho uma estratégia bem definida no que toca à distribuição de ativos no meu portefólio. Não é estática, e prova disso é que é bem diferente da que tinha no meu primeiro dia como investidora, e será bem diferente quando atingir o FIRE.

Primeiro de tudo, comecei a investir em ativos que compreendia e que estavam alinhados com os meus objetivos financeiros e perfil de risco de investidor. Depois disso, fui ajustando à medida que fui aumentando os meus conhecimentos (e compreendendo melhor tanto os ativos como a minha estratégia), mas principalmente pela sensação que tinha em relação ao que estava a fazer.

Exemplo: “Estou desconfortável com tanta exposição a P2P?” 👉 Ação imediata: reduzir a percentagem de P2P no portefólio até estar confortável novamente.

E é por causa destas sensações, que serão diferentes de pessoa para pessoa, que o MEU portefólio não fará sentido para A, B ou C. Nem tem de fazer, porque somos pessoas com sensações e objetivos distintos.

Podemos usar os portefólios de grandes investidores como base para começar (tenho vários exemplos no primeiro livro), mas depois disso temos de ser nós a aperfeiçoar para o nosso caso.

Depois de 5 anos de ajustes e ajustes posteriores, o meu portefólio ideal atual é:

A análise mensal

No início de cada mês, faço o registo do meu networth. Na prática, isto significa abrir todas as contas, corretoras e plataformas pelas quais tenho espalhado o meu dinheiro e registar os valores acumulados, no meu excel.

Hoje, dia 28 de fevereiro de 2024, a distribuição é:

  • P2P: 23% 🟡
  • Cripto: 11% 🟢
  • PPR: 7% 🟡
  • Dinheiro: 8% 🟡
  • ETF de Ações: 45% 🟢
  • ETF de Obrigações: 6% 🔴

Assinalei a verde os ativos que estão nos valores pretendidos. A amarelo os que estão diferentes, mas sem grandes desvios, relativamente ao valor alvo. E a vermelho aqueles em que quero atuar neste mês, porque estão completamente fora do pretendido.

Para evitar comissões e taxas desnecessárias, uso outra regra simples para ajudar nesta decisão: se o ajuste representa custos extra, então a ação é apenas nas que estão assinaladas a vermelho. Caso não haja custos envolvidos, posso atuar também nas assinaladas a amarelo.

Isto significa que posso, por exemplo, atuar nas P2P, uma vez que retirar juros recebidos das plataformas de investimento não tem qualquer custo associado.

As ações deste mês

Tenho 2.000€ para investir este mês, que enviei diretamente para a Degiro, porque claramente os ETF estão abaixo do valor que quero.

E agora… ETF de ações ou obrigações? Obrigações, porque estão muito desiquilibrados.

Dentro dos ETF, quero ter 80% em ações e 20% em obrigações, e tenho 11/89.

O resultado

Dentro dos ETF, a distribuição ficou:

  • 14% em ETF de Obrigações
  • 85% em ETF de Ações

No portefólio global a distribuição não mudou muito, porque o valor investido é apenas cerca de 1,5% do networth total.

Próximos passos

A análise é exatamente a mesma todos os meses, à excepção de dezembro (invisto 2.000€ no PPR – a totalidade do valor anual para este ativo). Para resumir em ações práticas:

  1. Registar o património de forma detalhada (todos os ativos que compõe a carteira)
  2. Comparar a distribuição atual com a distribuição ideal
  3. Ver que ativos devem ser ajustados (ter em atenção comissões e custos de cada reforço)
  4. Determinar o valor que se irá investir nesse mês
  5. Investir de acordo com os ajustes determinados
  6. Esperar pelo mês seguinte para voltar ao passo 1

Partilha nos comentários a tua estratégia, para evoluirmos em conjunto 🙌

Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.

8 thoughts on “Como escolho os investimentos do mês

  1. Oi.

    Boa análise e estratégia. Obrigado pela partilha. Permite-me algumas questões:

    1) os 10% de dinheiro é o que tens à ordem? E o dinheiro que usas para gastos diários? Suponho que o FE não entre nestas contas.
    2) sei que dás uma explicação tendo em conta o conhecimento que vais adquirindo, mas como chegaste à tua distribuição atual de porfefólio? Tem a ver com a % de rentabilidade que cada componente vai tendo? Tem alguma parte preferencial (e por consequência emocional)?
    3) para o cálculo do teu networth somas o valor investido mais o valor que já obtiveste de lucro, certo? Sendo assim presumo que tenhas mais ou menos 45k em ETFs. Percebo que não querias partilhas, mas se quiseres, destes 45k qual é o valor do teu lucro atual?
    4) recordo de há uns tempos teres um artigo acerca de investimento em imobiliário, não cheguei a perceber se avançaste ou não, mas imaginando que temos um ou mais imóveis, como é que este investimento se incluí no networth? Calculamos quanto vale actualmente? Deduzimos a dívida do CH? Somamos apenas o valor que já pagamos ao banco? Como farias?

    Desculpa se me entusiasmei com as perguntas, obrigado pela disponibilidade 🙂

    Raquel

    1. Olá!

      Vou por pontos também para ser mais fácil 🙂

      1) Todo o dinheiro entra, FE incluído. É a soma de todo o dinheiro que tenho espalhado por várias contas (conta corrente, FE a render 4% na TR, conta poupança da “Dama de Ouros” com o valor que será gasto no próximo livro, etc)
      2) Não é nada científico, mas é mesmo o que digo neste artigo: sensação. Fui fazendo e fui encontrando a distribuição que me deixa confortável, a dormir bem de noite, e optimista para atingir os meus objetivos financeiros. Em cada ativo é esperada uma determinada rentabilidade, e isso permite-me saber se com essa distribuição é expectável atingir os meus objetivos no prazo definido (vê o Excel deste artigo)
      3) O património é o dinheiro que tenho à data de hoje. Sabendo que tenho boa parte em renda variável, é normal que o valor de hoje para amanhã altere sem que tenha recebido ou gasto dinheiro, apenas por essas oscilações. Não sei como está hoje, mas ontem quando escrevi o artigo o lucro nos ETF rondava os 10.000€.
      4) Não avancei e, lá está, pelas tais sensações acho que não vou avançar. Não acho que gostasse muito do “trabalho” de ser senhorio e da responsabilidade de ter uma casa eheh. No networth entram ativos (valor atual do imóvel – se quisesses vender hoje, por quanto o farias?) e os passivos (valor de dívida). Uma casa de 200.000€ que tenha dívida de 150.000€ representa um património líquido de 50.000€. Claro que na prática pode ser diferente, mas isto também é só para ter uma ideia geral.

      Espero ter esclarecido!

  2. Com tanta pergunta esqueci-me de partilhar a minha estratégia atual 🙂

    – na parte do PPR estamos iguais, como ainda não tenho 35 anos, invisto 2000€ anuais, neste momento representa 10% do meu portefólio, mas quero baixar esse valor (aumentando o investimento nas outras componentes mal possa)
    – tenho todo o meu FE em certificados de aforro e depósitos a prazo (neste momento é 25% do meu networth, preciso de mais alguns meses/anos de investimento nas restantes componentes para baixar esta percentagem, visto que o valor em si ficará igual)
    – tenho 35% em ETFs
    – o restante à ordem (queria ver se baixava este valor, mas fico sempre com algum receio de ter o valor muito baixo e precisar de o usar, visto que não queria mexer no FE, mas vou tentar baixar.

    Já agora qual o valor mínimo à ordem que te deixa confortável para os gastos diários/mensais, 2k?

    Obrigado.

    Raquel

    1. Pois, no caso do PPR eu na verdade não quero uma percentagem. Quero só investir o mínimo para ter a máxima dedução fiscal. Com o aumento do networth e a diminuição dos reforços a partir dos 35, a minha percentagem também vai naturalmente baixar.
      À ordem deixo apenas e só aquilo que preciso para esse mês. Agora na verdade dou uma margem de 100€, para garantir que chega mesmo.

      No passado deixava apenas o valor orçamentado, e claro que gerou situações engraçadas (ocasionalmente), quando tinha uma despesa inesperada e depois o €€ não chegava até ao final do mês e tenho de andar a fazer transferências de última hora ou usar outros cartões para poder pagar o supermercado, enquanto as pessoas na fila mandam olhares do género “Podes despachar-te?” 🤣
      As minhas despesas rondam os 1000€, por isso nunca mais que isso

  3. Tb tinha essa dúvida. Eu assume que o fundo de emergência são o valor que preciso para viver duraante X meses (x escolhido por mim). Esse valor tenho uma parte à ordem , certificados de aforro e TR. não encaro o fundo de emergência como uma percentagem do networth mas um valor “fixo”. Ou seja, esse valor mantém-se constante e o que envisto é para lá desse valor.

    1. Acho que isso é mesmo preferência de cada um.
      Há quem considere carro, casa e etc no networth, e quem prefira deixar de fora. Quem inclua o FE e quem não o faça.

      Desde que se use sempre a mesma regra todos os meses, para se poder ver evoluções reais, então tudo certo 🙌

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