“Die With Zero” – Review da leitura

Recentemente li o livro Die With Zero, de Bill Perkins. Entrou imediatamente para a lista dos meus preferidos de finanças pessoais!

Não é um livro sobre poupança e investimento. É um livro sobre o verdadeiro valor do dinheiro e do tempo, e como podemos aproveitar esses recursos da forma mais eficaz e satisfatória possível.

Neste artigo, sem grandes spoils (espero eu), vou destacar os pontos chave desta leitura 🔥

Morrer com zero

Este livro é desconfortável. É provocador. Fala de morte e de uma abordagem à gestão de dinheiro diferente da que é proposta por outros livros de finanças pessoais. Quase tudo nele é tabu, e por isso há partes de leitura complicada, porque o nosso cérebro quer, inconscientemente, fechar a porta a ideias e temas que não está habituado a considerar.

Se mergulharmos no livro com mente aberta e curiosidade, podemos retirar um valor enorme desta leitura, e expandir os nossos horizontes e possibilidades.

Morrer-com-zero

O próprio título afasta logo muitas pessoas, e pode dar uma ideia errada do conteúdo. A morte está presente (e é analisada em vários capítulos, de uma forma muito crua e racional), mas a maior parte é sobre a vida e como a podemos aproveitar ao máximo.

Não, não é sobre gastar tudo e não deixar herança para os filhos. Sim, é sobre oferecer o que queremos oferecer a familiares e instituições em vida, quando estamos cá para o poder fazer e também usufruir da felicidade que é dar um presente a alguém.

O autor defende que a altura em que se oferece dinheiro aos descendentes faz toda a diferença no impacto que esse valor monetário terá, e na verdade faz todo o sentido. Receber 10.000€ aos 20 ou 30 anos pode ser a ajuda necessária para comprar uma casa, tirar um curso ou avançar com um projeto pessoal, enquanto que 10.000€ ou até 20.000€ aos 50/60 anos não terão um impacto assim tão grande, quando a vida supostamente já estará mais estável e “resolvida”.

Chegar-a-zero

Claro que tudo isto implica um jogo um pouco perigoso, se for levado ao limite. Como ninguém sabe a idade com que irá morrer, é difícil chegar ao final com exatamente zero euros na conta. Pode ser arriscado dar 10.000€ hoje, quando não sei se irei precisar deles aos 92 anos.

Os zero euros são um valor indicativo e o alvo do autor. Quanto mais perto ficarmos deste valor, mais optimizada foi a nossa gestão de recursos: tempo em dinheiro.

O autor defende que, caso cheguemos ao final da vida com muito dinheiro acumulado, claramente desperdiçamos recursos valiosíssimos:

  • desperdiçámos experiências que não vivemos e podíamos ter vivido. Mais viagens, mais passeios em família, mais atividades, mais presentes a pessoas queridas e instituições, que poderiam ter sido feitas.
  • desperdiçámos tempo a trabalhar mais que o necessário. Podíamos ter trabalhado muito menos, porque gastamos tempo para receber todo aquele dinheiro e não usufruímos dele (ver ponto acima).

Esta ideia é importantíssima e consegui encontrar imediatamente a relação entre isto e a minha jornada FIRE. Ao contrário de muitas pessoas, que têm medo de o plano FIRE falhar e ficarem sem dinheiro algures durante a vida, o meu maior medo é o oposto: trabalhar demais, desperdiçar tempo que poderia ser gasto de melhor forma, e acabar por acumular muito mais dinheiro do que o que alguma vez precisarei, mesmo fazendo tudo o que quero.

Estranho, não é? Já tinha um bocadinho esta ideia, e este livro só veio acentuá-la.

Adiar experiências

O movimento FIRE e o conteúdo extremo criado neste tema é todo sobre adiar a recompensa. Poupar hoje para gastar amanhã. Viver a jornada de forma regrada e totalmente controlada, investindo uma boa percentagem dos rendimentos, de modo a atingir a independência financeira e, aí sim, poder viver a vida “de sonho”.

Este livro propõe precisamente o contrário e introduz um conceito que, apesar de ser óbvio, nunca tinha sido considerado por mim na tomada de decisão: a memória. Sempre que fazemos algo divertido: seja um dia em família, uma viagem com amigos ou um jantar com uma pessoa especial, estamos a criar memórias. Somos felizes no momento em que os vivemos, e somos felizes todas as vezes que recordamos e contamos as histórias engraçadas a alguém. As experiências de hoje, proporcionam-me dividendos infinitos, a partir do momento em que são realizadas. Isto significa que, quanto mais cedo forem realizadas, mais tempo temos para aproveitar essas memórias. Uma forma gira de ver a coisa, não é?

Outro ponto importante, e que faz todo o sentido, é: há experiências que são muito melhor aproveitadas quando somos mais novos. É muito mais gira uma viagem à Noruega agora, em que posso fazer trilhos de 20 quilómetros todos os dias para explorar os sítios mais bonitos, do que aos 60 anos, em que o corpo não vai aceitar tão bem essa atividade e tenho de optar por mais tempo no carro ou a descansar. Uma viagem de interrail de mochila é incrível e uma experiência fantástica aos 20 anos, mas algo difícil de encaixar a até de aproveitar aos 35. Obviamente cada pessoa sabe de si e duas pessoas de 40 anos podem ter vontades e disponibilidades físicas completamente diferentes. Mas, uma coisa é certa, cada uma dessas pessoas teria maior possibilidade de disponibilidade física quando era mais novo do que nessa altura, e isso é normal.

Em vez de focar na maximização dos recursos financeiros, este livro propõe a maximização das experiências e felicidade. Em vez de adiar todos os momentos e atividades e viagens para a reforma ou para uma data qualquer no futuro, o autor sugere distribuir os recursos financeiros de forma equilibrada ao longo da vida, ou até mesmo direcioná-los para as alturas em que as experiências nos poderão acrescentar mais valor.

Como é que isto se relaciona com o FIRE? Felizmente, sempre abordei a minha jornada FIRE com esta linha de pensamento. Nunca achei que fizesse sentido deixar de viajar agora (algo que adoro fazer) para poder viajar mais tarde. E este livro e estes conceitos só vieram validar e reforçar esta minha decisão, e incentivar-me a fazer este tipo de escolhas.

Podemos sempre ganhar mais dinheiro, mas não podemos ganhar mais tempo.

As minhas frases preferidas do livro

“The purpose of money is to help you get more out of life, not to accumulate it.”

“Time is the ultimate luxury. Spend it wisely.”

“Money is a tool, not the end goal. Use it to create experiences that bring you joy and fulfillment.”

“Don’t postpone joy and fulfillment for some mythical future. Live in the now, creating memories that will last a lifetime.”

Versão audiolivro: Audible (regista-te com link e podes ouvir o livro no primeiro mês, gratuitamente)

Versão livro: disponível em várias livrarias (wook livro físico, Bertrand e-book)

Já leste este livro? Se sim, conta-me o que achaste 👇

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