Ferramentas para autor independente

Lancei o meu primeiro livro em 2023, com editora. Também em 2023 lancei o meu segundo livro, este de publicação independente. Foi um processo desafiante, com algumas peripécias e decisões que hoje tomaria de outra forma. Tudo isso, o bom e o mau, foi aprendizagem. Hoje sinto-me confiante no plano que tenho para o futuro e tenho a certeza que encontrei na autopublicação o caminho certo para a minha “carreira de escritora”.

Há uns tempos apresentei os cinco passos para a autopublicação, hoje trago uma vertente mais prática: as ferramentas e plataformas que uso e que gostaria de ter conhecido desde o primeiro dia.

Nem tudo o que aqui vou apresentar é obrigatório. A maioria só descobri com o tempo e com o desconforto de não as ter, mas passei meses sem as utilizar e tudo funcionou na mesma (apenas com mais trabalho da minha parte). Algumas só me dispus a pagar quando os lucros dos livros já podiam cobrir o investimento. Outras, acreditava mesmo que seriam despesa e afinal foram um investimento com retorno palpável.

Plataforma para venda

Andei um ano e meio a vender através de mensagens privadas, e-mail e google forms. O pagamento era por transferência bancária. Imagina as horas que perdi e os livros que não vendi por ter este sistema tão complicado e arcaico.

As pessoas tinham trabalho, porque tinham de transferir para um IBAN e enviar comprovativo. Eu tinha trabalho, porque tinha de confirmar pagamentos e associar transferências a e-mails. Ninguém ganhava nada com isto.

Em janeiro contratei uma pessoa para me fazer um site para venda, agregado ao blog. O tempo foi passando, sem progressos. Em julho, mais de meio ano depois, fartei-me de esperar e pesquisei as opções para criar loja online que fossem acessíveis a uma pessoa que não percebesse nem quisesse aprender a programar.

A solução encontrada, e que estou a usar agora, é o Shopkit. É uma empresa portuguesa com suporte 100% português, o que ajudou na minha decisão.

Comprei o domínio www.damadeouros.pt para a loja (lá no shopkit, por 15€/ano), escolhi um template, coloquei fotos e descrições dos artigos e pronto: site feito.

Já tinha algumas coisas preparadas desde janeiro, como os temos e condições, descrição dos produtos e outros textos necessários, por isso foi só copiar e colar tudo nos sítios certos. Demorei duas ou três horas a ter um site operacional e pronto para vender.

Mesmo que ainda não tivesse tudo isso pronto de antemão, acho que teria demorado no máximo uma semana a configurar tudo.

Estou a pagar neste momento 26€/mês e a poupança nos portes de envio (através deles temos contrato com os CTT a preços muito mais baixos) paga a mensalidade – e ainda sobra para lucro.

Esta é daquelas que gostaria de ter tido desde o início. É um custo que se paga a si próprio: de forma direta, pela poupança nos portes de envio, e de forma indireta, pelo aumento nas vendas pela simplificação do processo de compra para o cliente.

Plataforma para receber pagamentos

Para podermos configurar pagamentos por MbWay, cartão de crédito e referência multibanco, precisamos de abrir conta num parceiro.

Eu criei conta na Eupago, uma das plataformas que tem integração na Shopkit para receber pagamentos. Ter a conta não tem qualquer custo: retêm apenas uma comissão por cada venda feita.

Mais uma vez: é um custo que se traduz em mais vendas e menos trabalho. Os pagamentos são automaticamente processados e caem na conta no dia seguinte à venda! Sem complicações.

Criar conta é fácil, mas demora umas semanas porque é preciso assinar os contratos e enviá-los assinados por correio. É uma das primeiras coisas a fazer, para acelerar.

Plataformas de comunicação

Só nos apercebemos da importância de uma newsletter e de um canal próprio de comunicação quando o Instagram, Facebook e etc estão em baixo e ficamos sem forma de trabalhar, comunicar ou vender.

A newsletter é um espaço mais fechado. Os subscritores são pessoas que realmente querem ler o que escrevemos e saber das coisas em primeira mão.

Eu utilizo desde 2021 a plataforma Mailerlite. Na altura, li imenso sobre o assunto, li todas as comparações entre as várias plataformas de email marketing do mercado. Acabei por avançar com esta, porque me pareceu boa opção, e a verdade é que continuo satisfeita. Até 1000 subscritores é gratuita, o que é uma grande vantagem para não ter custos iniciais.

Se passarmos os 1000 subscritores, não há que ter pena de pagar. São leitores que irão comprar os nossos livros, e por isso acaba por ser um investimento com retorno.

Permite automatizar e-mails (exemplo: uma sequência de e-mails programados assim que alguém subscreve pela primeira vez) e permite manter um canal de comunicação daí para a frente.

Um blog?

Eu comecei por ter blog e só uns anos depois tive algo para vender.

Quando quis criar o blog, naveguei por blogs sobre blogs e decidi-me pela plataforma Bluehost para alojamento. Para ter a certeza que me dedicava a este hobby e não o deixava morrer ao fim de um tempo, paguei adiantado 3 anos de alojamento! 😂 Resultou, missão cumprida. ainda cá estou, mais de 3 anos depois.

Comprei por lá o domínio, e por lá fiquei esses 3 anos. Quando chegou a altura de renovar, os preços que me apresentaram eram consideravelmente mais altos. Eles têm preços bons para iniciar, para prender os clientes, mas depois disparam nas renovações.

Estes 3 anos terminaram em maio, por isso por volta dessa altura migrei tudo para a Linxisp, uma empresa portuguesa e com suporte incrível. Trataram de tudo rapidamente, em dois dias, sem o blog ter ido abaixo uma única vez.

Se tivesse começado desde sempre com a loja online para venda de produtos ou serviços, poderia ter feito um dois em um. Na shopkit há uma secção de blog que se pode utilizar para o efeito e permite poupar este custo adicional de alojamento. No meu caso, é uma funcionalidade que não estou a utilizar porque tenho o blog noutro local há algum tempo e não fazia sentido mudar para lá. Para quem está a começar, é uma opção a considerar.

Envelopes e caixas

Quando vendemos produtos físicos precisamos de os enviar (etiquetas automáticas e preços de contrato coletivo, como já vimos, são com venda na Shopkit) e para isso precisamos de envelopes e/ou caixas.

Comprei sempre os meus na loja 100metros, porque tem a maior oferta e melhores preços. A entrega é super rápida e correu sempre tudo bem, já fiz várias encomendas com eles.

A medida ideal para livros A5 é 220X340.

Brindes e marcadores

Fiz alguns brindes (autocolantes e ímans de frigorífico) e os marcadores de livros no site 360imprimir. Submeti o desenho e encomendei os materiais impressos e confesso que a qualidade diferiu muito em duas encomendas que fiz.

Dois autocolantes exatamente iguais chegaram com cores super vivas na primeira compra e com cores mais esbatidas na segunda. Não reclamei porque não me incomodou muito: estavam diferentes mas ambos bonitos, mas fica aqui a nota de aviso.

Impressora

No início escrevia todas as moradas à mão. Era um trabalho que ocupava imenso tempo e não acrescentava valor nenhum. Pior, enviando por correio registado (sempre, para não haver azares), tinha de escrever a morada uma segunda vez, na folha do registo.

Com o contrato CTT do Shopkit, as etiquetas são geradas automaticamente e só temos de as imprimir e colar na embalagem. Eu tenho uma impressora que estou a usar para imprimir em papel normal e depois só tenho de colar na embalagem com fita cola.

Há também a possibilidade de ter uma etiquetadora que imprime já o tamanho correto e em papel autocolante, mas este é um investimento que ainda não fiz. Para já, a impressora que já tinha serve perfeitamente.

Paginação, Capa, Revisão, Edição e Impressão

Coloquei todas estas tarefas num único setor, não por serem muito simples e poderem ser agregadas, mas precisamente pelo contrário: são tão específicas que precisam de ser avaliadas caso a caso.

Haverá designers mais indicados para ficção e outros para não ficção. Revisores e editores idem aspas. E quanto à gráfica, pode fazer sentido pedir orçamentos às que ficam geograficamente mais próximas da nossa zona de residência, uma vez que pode ser preciso ir lá presencialmente ver amostras e confirmar que está tudo OK para avançar.

Abaixo deixo as empresas/profissionais com quem trabalhei:

• Marta Ferreira para consultoria, edição e revisão;
• Ágata Ventura para design e paginação;
• Gráfica Diário do Minho para impressão;
• Europress para distribuição.

Conclusão

Para escrever só precisamos de uma ideia, papel e caneta. Depois um computador para tornar legível aos outros. Se optarmos pela via tradicional, a nossa intervenção pode terminar por aqui.

Quando somos autores independentes, a escrita é apenas a primeira parte do trabalho. Tudo o resto é tão ou mais importante, porque há investimentos a recuperar.

A minha conclusão é: inicialmente custa gastar mais dinheiro do que o estritamente necessário. Cada nova adição às despesas, torna mais difícil chegar ao ponto em que estamos finalmente a ganhar dinheiro com o livro. Ou assim parece. Como vimos aqui, muitas despesas são, na verdade, investimentos com retorno:

• Retorno de tempo: passar menos tempo a fazer tarefas que não acrescentam valor deixa mais tempo livre para aquilo que realmente importa – escrever mais livros;
• Retorno de dinheiro: algumas ferramentas permitem-nos mais vendas, por contacto ou simplificação da compra ao leitor, e menores custos diretos, como é o caso dos contratos coletivos CTT a preços muito mais apelativos.

Já consideraste escrever um livro, ou vender algum tipo de produto?

Espero que este artigo tenha ajudado 🙏