Reparei que, apesar de ter escrito um livro sobre obrigações, tenho muito pouca informação sobre este ativo aqui no blog. Escrevi sobre onde comprar obrigações e ficou por aí. Hoje é o dia de mudar isso 🙌🔥
Apesar de ser um ativo muito comum no FIRE e nas finanças pessoais, as obrigações passam um bocadinho ao lado da maioria porque as pessoas:
- ou têm literacia financeira e objetivos ambiciosos de longo prazo e acham que é um investimento demasiado conservador;
- ou não sabem o que são nem que riscos acarretam e acreditam que sejam demasiado arriscadas ou complexas para o seu perfil.
Os certificados de aforro e tesouro são os produtos preferidos dos portugueses. São títulos de dívida do Estado Português e captam a atenção de milhares de pessoas, que lá colocam todas as suas poupanças. Por saber isso e por saber o período difícil que atravessamos, coloquei este tema no topo da lista.
Não existem só os títulos de dívida de Portugal. Não estamos limitados a estes produtos. Existem obrigações de quase todos os países e empresas do mundo que podemos comprar, possivelmente mais seguras e/ou mais rentáveis que estas que tão bem conhecemos.
O que são obrigações?
Obrigações são empréstimos a empresas ou governos. São uma boa forma de angariar capital necessário entre investidores, oferecendo em troca juros a uma taxa pré-definida.
Quando compramos uma obrigação, emprestamos o nosso dinheiro por um período específico (maturidade). Recebemos em troca pagamentos regulares de juros, também conhecidos como “cupão”. Assim que a obrigação atinge a maturidade, recebemos de volta o capital emprestado.
Para os investidores, são um óptimo ativo para garantir retornos periódicos estáveis. São os chamados ativos de renda fixa.
Há alguns termos comuns nesta classe de ativos. Nesta página de FAQ da Trade Republic todos os termos que aparecem na aplicação da corretora são bem explicados. O livro FIRE com Obrigações também os explica, claro 😁
Os riscos
Todos os investimentos têm riscos e as obrigações não são excepção. Abaixo um excerto do livro, a partir da página 51:
“Baixo risco não significa nenhum risco, e pouca volatilidade não implica que não haja qualquer tipo de oscilação. Os níveis de risco são baixos comparativamente a outros ativos, mas existem e devem ser conhecidos e considerados antes de avançar com qualquer tipo de investimento. Além do risco de crédito associado ao emitente da obrigação, há outros riscos que devem ser considerados:
- Risco da taxa de juro
- Risco de liquidez
- Risco de inflação
- Risco da moeda”
Há vários fatores a ter em conta quando analisamos uma obrigações, porque há riscos completamente diferentes entre produtos diferentes. A Grécia não tem o mesmo risco que a Alemanha e a Apple não tem o mesmo risco que a SIC.
Riscos superiores são recompensados com taxas de juro também superiores, para captar a atenção dos investidores. Se todas as obrigações oferecessem a mesma taxa de juro, os investidores iriam optar todos pelas empresas e países mais seguros: o objetivo de um portefólio é sempre maximizar retornos e minimizar riscos.
Os benefícios
A vantagem chave do investimento em obrigações é diferente consoante o perfil e objetivos:
- baixa volatilidade e menor risco, para o investidor conservador
- optimização dos retornos e rendimento periódico, para o investidor na jornada FIRE
Deixo aqui um excerto da página 140 do livro:
As obrigações, em norma, comportam-se de forma oposta às ações. Se um desce o outro sobe e vice-versa. Isto significa que, além de um portefólio com menor volatilidade na vida FIRE, ter ambos os ativos ainda permite também optimizar a fase de acumulação.
Para manter uma percentagem de distribuição de portefólio definida, em anos/meses em que as ações estejam a subir a pique e as obrigações a cair podemos reforçar as obrigações, em anos/meses em que as ações estejam a cair podemos reforçar este ativo. É um DCA optimizado, que permite usar a volatilidade e covariância dos ativos a nosso favor.
Obrigações na Trade Republic
Já tinha partilhado neste artigo onde comprar obrigações, mas não entrei em detalhe sobre cada plataforma. Hoje vamos a um belo passo-a-passo da compra na Trade Republic, mesmo como gostamos 🥳
Primeiro, coisas importantes que podem levantar dúvidas e começamos já por esclarecer:
- As obrigações são transacionadas no mercado secundário. Isso significa que podemos comprar e vender a qualquer momento, mas também significa que, caso queiramos vender, o valor recebido pode ser diferente daquele pelo qual o compramos (superior ou inferior).
- O custo de transação é o mesmo dos outros ativos: 1€
- Os juros caem diretamente na conta da Trade Republic, ficando a render 3,25% a partir desse mesmo dia (juros pagos sobre o dinheiro parado na conta, em dinheiro)
- É possível a compra de obrigações fracionada. Em vez do valor completo da obrigação, dá para investir um valor “redondo”, por exemplo 10€.
- As obrigações disponibilizadas são transacionadas na Bolsa de Londres e todas cumprem os seguintes critérios: moeda euro, boa liquidez e taxa de juro simples (excluem obrigações de juro indexado a inflação, euribor, etc)
Quando abrimos a aplicação da Trade Republic e clicamos em “Procurar“, vemos vários títulos de ativos entre os quais podemos filtrar: ações, ETFs, criptomoedas, derivados e, por fim, Obrigações.
Quando abrimos a aplicação da Trade Republic e clicamos em “Procurar“, vemos vários títulos de ativos entre os quais podemos filtrar: ações, ETFs, criptomoedas, derivados e, por fim, Obrigações.
Estão disponíveis, neste momento, 631 obrigações. Para facilitar a pesquisa e análise, temos à nossa disposição novos filtros:
- Duração: 1-6m, 6-12m, 1-2a, 2-a4, 4-10a, +10 anos
- Tipo: Empresarial ou Governo
- Indústrias: 25 setores específicos para escolher
- Países: 18 emitentes possíveis, incluindo Portugal
Colocando o filtro “tipo – Governamental”, os resultados diminuem para 303. Cerca de 50% das obrigações são governamentais e 50% corporativas.
A lista de países com obrigações disponíveis é a que se apresenta na imagem, mais Portugal, Roménia e Áustria, que não couberam no print screen.
Selecionando, a título de exemplo, França, vemos que há 18 obrigações disponíveis! Todas com maturidades e taxas de juro diferentes.
Selecionando a primeira, vemos que se trata de uma obrigação cujo rendimento anual é de 3,57% e cuja maturidade é daqui a 35,5 anos – 25 de abril de 2060.
O cupão original era de 4%, mas com as oscilações do valor da obrigação do mercado secundário rende menos que isso a quem comprar pelo preço atual.
Abrindo a obrigação pretendida e clicando em “Comprar”, aparece a informação que aparece na imagem.
Aqui podemos selecionar o montante a investir (se não quisermos nenhum dos valores apresentados, clicamos no “…” e colocamos lá o valor, a partir de 1€) e também o tipo de ordem, clicando em “Montante“.
Por predefinição a opção escolhida é “Montante“: compra imediata (quando a bolsa estiver aberta) ao valor atual.
Escolhendo o valor nominal, selecionamos o valor que queremos receber no final do vencimento (recebemos o valor original do cupão, não o atual. Pode ser superior ou inferior).
Escolhendo limite temos de selecionar o valor ao qual estamos dispostos a comprar. Clicando lá conseguimos ver qual o preço atual (neste caso, 108,45%) e escolhemos o preço desejado (100% significa que o preço da obrigação original, no mercado primário, é igual ao prelo de transação atual. Na maturidade recebemos exatamente o mesmo valor que investimos)
Ta-daaaa! Tendo selecionado investimento de 100€ e ordem de mercado (montante), resta apenas confirmar que está tudo direitinho e clicar em comprar.
Na primeira vez que investimos em obrigações, antes de nos ser possível avançar, temos de responder a um teste que demora uns 5 minutinhos.
Para quem leu o livro FIRE com obrigações este teste é peanuts 🤪🔥
Obrigações em ETF
Esta é a minha forma preferida de investir em qualquer classe de ativos, obrigações não são excepção. Em vez de correr o risco de estar exposta apenas a uma empresa, país ou maturidade, posso ter centenas ou milhares de obrigações juntinhas num cabaz. Permite ainda decidir o que se faz aos juros: receber na conta ou reinvestir dentro do fundo?
Há centenas de ETF de obrigações disponíveis na Trade Republic, para todos os gostos e objetivos.
A ideia é a mesma. Começar por selecionar ETF e depois, nas indústrias, assinalar as obrigações que se pretende ver.
Neste caso, selecionei todas as opções disponíveis.
A título de exemplo deixo este ETF: US Treasury Bond 20+y USD (Dist)
Como obrigação individual não era possível investir no tesouro americano (colocando o filtro governamental já não aparecia nada relativo aos EUA, no filtro dos países), no entanto é possível investir em obrigações americanas através de ETF, como demonstra a imagem.
O investimento em obrigações através de ETF tem outra vantagem, na Trade Republic: permite ativar investimentos automáticos, que por sua vez permitem ativar a funcionalidade “saveback“, que nos dá 1% em todas as compras até 15€/mês.
É uma grande vantagem para investidores preguiçosos e consistentes, como eu. No meu caso, tenho três planos de investimento ativos, dois deles de obrigações:
- Global Aggregate Bond EUR (Acc)
- Euro Corp Bond EUR (Dist)
Graças ao mecanismo de saveback, além dos 100€ que mensalmente contribuo com dinheiro da minha conta, são ainda adicionados 1% das minhas despesas.
A compra do meu computador novo contribuiu para um investimento mensal de 8,13€, nada mau. 🙌
Se ficaste curioso e queres aprender mais sobre obrigações, espreita o meu livro:
Se já sabes tudo sobre obrigações, queres investir neste ativo e queres experimentar a Trade Republic:
BONS INVESTIMENTOS!
Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.
Este artigo é patrocinado pela Trade Republic.
Olá! Dúvida: tenho um ETF de obrigações, especificamente esse que referes Global Aggregate Bond EUR (Acc), na Degiro. Achas que investir separadamente só em obrigações seria “duplicar” o investimento? Ou deveria investir em obrigações individuais para diversificar?
Obrigada!
Olá!
Faz a analogia com fruta e acho que a compreensão vem sozinha eheh
Imagina que compras cabazes de fruta que trazem maçãs, pêras, bananas e uvas. Será que vale a pena comprar também bananas à parte?
Faz sentido, se gostares muito de bananas e quiseres mais do que as que tens no cabaz. Se for para diversificar a dieta, comprar mais bananas não contribuirá muito para esse fim.
Espero ter ajudado! 🍏🍎🍋🍌🍉🍓🍒🍑
Ahah
Ahahah adorei a analogia! Então vou manter-me só com o ETF! 😛
Boa, ainda bem que ajudou eheh
Que analogia brutal
Colocando noutro contexto, que conhecemos bem, fica bem mais simples compreender 😁
Portanto, bonds na TR tem 1€ de comissão, mas ETFs de bonds é gratuito?
Todos os produtos comprados “avulso” custam 1€, todos os investimentos através de planos de investimento são gratuitos.
Como podemos ver quando é que os juros das obrigações são pagos?
E quando caem na conta, existe diferenciação entre os juros que dao 3.25 da própria TR e dos das obrigações?
Olá!
Quando abres a obrigação na aplicação da Trade Republic consegues ver, em “Informação do Produto”, as seguintes informações:
– tipo: governo
– data de maturidade: 25 abr. 60
– cupão: 4,00%
– frequência do cupão: anualmente
– moeda: EUR
– volume de emissão: 21,48B €
Neste caso (mesmo do exemplo que apresentei), é pago anualmente a 25 de abril.
Quando caem na conta estão devidamente identificados. Os juros dizem “Juros 3.25% p.a.”, esses hão-de dizer “Nome da obrigação Juros em dinheiro”
Mesmo sendo um ETF? Por exemplo o Xtrackers II EUR High Yield Corporate Bond UCITS ETF.
No meu não me aparece essa info ou então não estou a ver no sítio certo 🙁
No caso dos ETF não aparece aí. Não há um cupão garantido nem nada do género, porque as obrigações que estão dentro do cabaz estão sempre a mudar.
Para pesquisa sobre ETF uso e recomendo sempre o site justetf, está lá essa informação toda. No site do fornecedor também, claro
Boa noite. Ao ter na TR um plano de compras de ETF (para gente como eu preguiçosa e para não gastra 1€ em cd compra) posso com esse plano beneficiar de 1% se tiver o saveback ativado mesmo sem ter aderido a cartão?
Obrigada
Olá!
Esse saveback é adicionado ao plano de investimentos, e o valor é 1% das compras feitas. Não fazendo compras, não há saveback a adicionar. (artigo sobre o saveback aqui)
Se a pergunta é se é preciso pedir o cartão físico: não, não é. Podes ter um cartão virtual e usá-lo na carteira do telemóvel, compras online e etc. (artigo com outras perguntas frequentes aqui)
😁
Olá!
A TR pode ser uma boa solução para receber mensalmente transferências (créditos) de outros investimentos e também ter débitos mensais?
Com o dinheiro que sobrar, a ideia será manter simplesmente a render.
Obrigado pela ajuda
Olá!
Não, isso não é possível. Só consegues adicionar dinheiro de contas em teu nome e para retirar a mesma coisa.
Não é possível receber transferências de outras pessoas ou ativar qualquer tipo de débito direto
O que eu faço é: na minha conta corrente, na qual recebo transferências e salário, tenho apenas o suficiente para pagar as contas que têm de ser pagas a partir daí por débito ou transferência. Tudo o resto é enviado para a TR para estar a render os 3.25%
Olá,
começo por agradecer o trabalho fabuloso que fazes, é certamente um contributo fabuloso para a literacia financeira dos portugueses.
(eu comecei a minha jornada em direção à independência financeira em 2019 e todos os meses aprendo algo novo com os teus posts)
Em relação às obrigações (e apesar de já ter lido o teu livro) é como dizes, passa um bocadinho ao lado, mas agora que já estou FIRE (yeah…)
é algo que quero considerar para adicionar uma rendimento mais conservador ao meu portfólio.
Pegando no exemplo que dás (Obrigações abril 2060) posso por favor pedir-te que me confirmes se o meu raciocínio está correto?
Imagina que invisto 100K, significa que todos os anos recebo 3,57% ($3570) e em 2060 recebo os 100k de volta (se entretanto o Estado Francês não entrar em default ;)?
Estará correto o meu raciocínio?
Muito obrigado pela tua ajuda e os meus desejos de uma rápida recuperação (para que possas voltar aos treinos)
Olá!
Antes de mais, muitos parabéns pelo FIRE! Incrível! O que tens feito com toda essa liberdade? 😍🔥
Sim, é exatamente isso. É feito um empréstimo, são pagos os juros e no final é devolvido o dinheiro.
Obrigada!
Muito obrigado pela tua resposta.
Respondendo à tua pergunta, ainda a sofrer do síndroma de “só mais 1 ano” 😂
Iniciei um contrato de 5 anos em 2022, 2 to go…já agora acaba-se o que se começou.
Olha, eu achei que ia sofrer dessa síndrome, mas afinal… Até me despedi antes do que era suposto ahah
Se estás a fazer o que te deixa descansado, é o que importa. E a verdade é que esses anos extra permitirão consolidar a tua posição financeira ainda mais, reduzindo praticamente a zero os riscos subsequentes. 🔥
Muito sucesso!
Olá! E muitos parabéns pelo trabalho feito por aqui no blog! 😀
Gostava de perceber o teu ponto de vista em relação a isso:
Ao analisar alguns ETF de obrigações acumulativos, observo que a evolução do valor da unidade do ETF é algo estanque, sem evolução significativa.
Não será um tipo de ativo em que faça mais sentido optar por ETF distributivo? Ao não conseguirmos usufruir da evolução do preço da unidade nem dos juros, acabo por não perceber bem o potencial da estratégia de ETF de acumulação em obrigações (ao contrario das ações). Percebo que uma das funções será amparar as grandes quedas do mercado de ações e tornar o portfolio menos volátil, mas mesmo assim.
Não sei se me fiz entender 😛
Obrigado e boa semana
Olá!
Se se tratar do mesmo índice, então não é por optares pela opção distributiva que vais ter mais rentabilidade. Os juros pagos são os mesmos, a diferença é apenas que nos acumulativos os juros são usados para reinvestir dentro do mesmo fundo e no distributivo são pagos na conta corrente e podem ser reinvestidos noutros ativos ou usados para despesas.
Espero ter ajudado!
Bom dia
Ter um ETF de obrigações de determinado pais ou de um conjunto de países, não tem a oscilação de um ETF “normal” baseado em ações, em que sobe e desce ao ritmo do mercado das ações?
Nos ETFs de obrigações, a percentagem do rendimento é logo definida à partida e fixa ao longo de todo o período determinado, certo?
Além desta questão, num imprevisto, pode ser levantado quer o ETF das obrigações, quer as obrigações compradas de um determinado país?
Obrigado pelo trabalho desenvolvido.
Olá!
Tem, sim. A volatilidade é mais baixa, mas o comportamento é semelhante: os preços variam de hora a hora, dia a dia.
A percentagem de rendimento não é definida porque as obrigações contidas no fundo podem mudar. Algumas atingem maturidade, outras entram… Como é um cabaz variável, ainda que todas sejam do mesmo tipo, o valor de juros pode variar no tempo.
Um ETF pode ser transacionado a qualquer momento, desde que a bolsa esteja aberta.
Espero ter ajudado!