A jornada FIRE exige muito pensamento crítico e confiança nas nossas próprias decisões.
Primeiro, porque estamos a fazer algo totalmente fora da caixa e vamos ouvir todo o tipo de críticas e objeções às nossas ambições. Temos de saber filtrar o que é útil e o que não faz sentido, mesmo nas conversas com as pessoas mais próximas que só nos querem bem.
Segundo, porque vamos entrar numa bolha em que milhares de outras pessoas estão também nesta jornada, cada uma em fases diferentes e com objetivos distintos. Temos de resistir à tentação de saltar passos ou de fugir do plano só porque vimos que A, B ou C estão a fazer diferente.
Deveria restringir a partilha?
A minha resposta a esta pergunta foi sempre um NÃO. Somos todos adultos e cada pessoa é responsável pelas suas próprias escolhas. Temos informação, publicidade, marketing e decisões a tomar todos os dias, nos investimentos e em tudo o resto, e no final de contas o que fazemos é aquilo que nós próprios escolhemos fazer.
Tenho por isso partilhado com total transparência a minha jornada. Hoje foi a primeira fez que pensei se isso seria uma coisa boa ou má.
Há pessoas que me acompanham desde o início (ou há vários anos) e viram o desenrolar do plano. Mas outras tantas (ou até mais) chegam agora, quando ultrapassei a primeira fase e já estou a viver o FIRE Flamingo. Terminei a fase 1 em dezembro, arranco na fase 2 de janeiro em diante.

Nunca tomaria estas decisões no início da jornada. Não fariam o mínimo sentido na fase de acumulação.
Por isso custa-me imenso ver mensagens a dizer “estou a começar e só tenho ETF acumulativos, mas fiquei interessada neste”.
Se há um plano, tudo o que temos de fazer é seguir o plano. Máximo dos máximos, quando vemos informação de uma fase à qual ainda não chegamos, podemos guardá-la para consultar mais tarde, na altura certa.
Porquê isto agora?
Durante anos investi apenas num ETF. No entanto, como disse, terminei a fase 1, de acumulação. Atingi todos os meus objetivos financeiros para o FIRE Flamingo:
- Um ano de despesas em dinheiro
- Renda extra (que agora é trabalho principal) que cobre todas as despesas
- Metade do valor FIRE investido em ativos diversificados que continuarão a crescer nos próximos anos (150.000€)
No início da fase 2, dei por mim com mais dinheiro do que o planeado (17k em vez de 12k) e dei por mim também a gastar sem critério, algo que não acontecia há anos. Não gostei da sensação.
Este dinheiro extra, que deveria ser tranquilidade e segurança extra, estava na verdade a deixar-me ansiosa por estar a gastar sem qualquer ponderação, em coisas que não me acrescentavam nada.
Mal por mal
Tendo em conta que estes 5000€, se deixados na conta, seriam dados como perdidos (desperdiçados em coisas que não queria assim tanto), então melhor investi-los. E tendo em conta que não pretendo acelerar a chegada do FIRE tradicional, preferi direcionar os fundos para ativos distributivos, que permitam resultados no curto prazo.
Encontrei um ETF péssimo para acumulação (tem desvalorizado ao longo dos anos), mas óptimo para distribuição.
O risco de investir neste ETF é elevado. Nada a ver com o que compõe a maior parte da minha carteira e que reforcei até atingir o FIRE Flamingo. Mas tendo em conta que já atingi os meus objetivos financeiros e que este dinheiro seria perdido de qualquer forma (ia gastar em coisas que não precisava assim tanto), fez sentido escolhê-lo.
Os meus passos para chegar aqui
Vou fazer uma pequena viagem no tempo aos passos que efetivamente fizeram sentido na fase de acumulação da minha jornada:
Aprender
Antes de investir em qualquer ativo, temos de investir em conhecimento. A minha fonte preferida de informação são livros, e escrevi aquele que gostaria de ter lido quando iniciei a jornada FIRE. Muitas sugestões aqui. Para quem preferir vídeo há imenso conteúdo no Youtube, e para audio imensos podcasts de qualidade.
Conhecer todos os meus números
Para traçar um plano é preciso saber o ponto de partida (património), a direção (valor FIRE) e as ferramentas que temos para lá chegar (poupança). Não há como contornar esta parte.
Manter uma alta taxa de poupança e pagar-me primeiro
Não há como contornar. O tempo até ao FIRE depende apenas e só da taxa de poupança (assumindo rentabilidade igual, claro). Por isso, aumentar a taxa de poupança – por combinação de redução de despesas e aumento de rendimentos – é um grande passo para a independência financeira. Principalmente controlar despesas, como expliquei aqui.
Escolher uma distribuição de portefólio e seguir o plano
A poupança é importante, mas não é suficiente! É preciso começar a investir. A escolha da distribuição de portefólio é uma das decisões mais importantes. No entanto, está longe de ser definitiva! Podemos começar com algo simples (ouve aqui umas dicas para desbloquear) e depois ir adaptando em função das nossas necessidades e gostos.
Nesta fase, e tendo em conta a situação tributária em Portugal, é muito mais eficaz investir em ativos acumulativos do que distributivos, quando existe a alternativa. Este é um dos motivos pelos quais não investi em ETF de distribuição na minha fase de acumulação.
Depois disso é só seguir o plano, mês após mês. Os investimentos do mês são feitos em função disso.
Manter a consistência
Esta é a parte mais desafiante: manter a consistência e seguir o plano, mês após mês, ano após ano.
Esta minha fase de acumulação durou 5 anos, mas pode durar 10 ou 20, dependendo dos valores e ponto de partida. O pensamento para não desanimar é sempre o mesmo: o tempo vai passar de qualquer forma, por isso melhor fazer algo que me deixe feliz e mais próxima da liberdade financeira.
Conclusão
Na era da informação uma das principais competências que temos de desenvolver é o espírito crítico. Temos de recolher dados e analisar o que faz sentido para a nossa situação, no momento em que estamos.
Não quer dizer que a informação seja errada, ou que a pessoa esteja a cometer erros gravíssimos só porque não concordamos. Pode apenas ser totalmente desadequada para nós, e é importante saber reconhecer isso.
Tranquiliza-me o coração: as minhas partilhas ajudam-te ou confundem o teu plano?
Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.
Bom dia!
As tuas partilhas ajudam muito, e concordo que devemos ter espírito crítico; há coisas que tu fazes que não se alinham com o meu objetivo e fase de vida, mas adoro a transparência com que partilhas a tua jornada!
Eu tenho FE em certificados; algum valor em ETFs acumulativos precisamente naquela lógica de longo-prazo, ponho para lá todos os meses, atualizo o excel 1x por mês e deixo estar, nem vejo se está a subir ou descer; tenho um PPR mas o meu ativo favorito é o imobiliário buy&hold. Poderia dizer que esta é a minha estratégica “distributiva”, pois as rendas todos os meses fazem-me muito sentido ehehe. Tenho 2 e o objetivo é crescer até ter 4 ou 5 cujas rendas me paguem as despesas e assim atingir o FIRE. Demorei algum tempo a chegar a este equilíbrio que se alinha com o meu perfil. As tuas partilhas ajudam imenso em certas coisas como por exemplo a TR, em que por causa de um post teu estou a considerar passar para lá a minha conta-poupança “almofadinha”, que tenho no ativo bank a render nada! ehehe
Por isso, obrigada pelas tuas partilhas!
Que bom! Muito obrigada pela partilha e sucesso na tua jornada 🙏🔥
As tuas partilhas ajudam imenso. Estou bastante atrás vs o teu percurso mas leio o que escreves agora pensando sobre “será que faria o mesmo?” “O que posso ajustar para acelerar?”. Mesmo olhando para artigos mais antigos, houve coisas que li e depois de analisar percebi que queria fazer diferente do que estava a fazer (mais diversificação) mas não como fizeste na altura. Ou seja uso estes conteúdos como inícios de conversa comigo própria!
Ahhhh, que bom!
Ponto de partida de conversas próprias é algo que nunca pensei, mas sem dúvida super útil 🙏🔥
Olá! As tuas partilhas não confundem! Estou há 2 anos na jornada e por mais que me apetecesse passar para uma fase seguinte, sei que ainda há todo um caminho pela frente e pagar impostos por dividendos (que seriam para reinvestir) simplesmente não faz sentido. Este ano, diversifiquei um pouco os meus investimentos em ETFs (juntei um pequenino valor mensal a Ouro e a obrigações, mas ambos acumulativos, tendo em conta o objetivo). Posso confessar-te que não vendi o teu livro “Fire com obrigações ” porque tinha uma dedicatória 🙂 e ainda bem porque já o reli e um dia destes volto lá. És uma inspiração, obrigada pelas partilhas
Oh, obrigada! Fico feliz por saber 🙏
Muito sucesso na tua jornada🔥🙌
No teu plano só não percebo uma coisa, porque é que não aproveitas-te enquanto tinhas vinculo profissional e agora que há isenções de imposto e financiamento a 100% para comprar casa? é que parece que é uma boa oportunidade que estas a deixar passar.
Deixo aqui o meu ponto de vista. A medida para quem tem menos de 35 anos é excelente tendo em conta o financiamento a 100% e a isenção de imposto. Contudo, o preço das casas está altíssimo. E tal como a Dama de Ouros eu tenho uma renda de casa de 350€, no sítio que adoro com o tamanho suficiente para as minhas necessidades. Adorava ter casa própria, confesso ,no entanto, a prestação do crédito habituação seria pelo menos o dobro do valor que pago atualmente, montante esse que utilizo para investir. Prefiro investir esse dinheiro do que “enterrar” numa casa.
Há duas situações em que faz sentido comprar casa:
– quando se quer muito e se tem condições financeiras para isso, independentemente de ser vantajoso ou não;
– quando arrendar ou comprar é indiferente e faz sentido financeiramente
Eu estou na terceira: não faz sentido financeiramente e não quero.
Tu estás na quarta: queres mas não faz sentido financeiramente. Quando a oportunidade certa chegar e os números fizerem sentido, conseguirás cumprir o teu sonho 🙏🙌
Vamos a isso 💪🔥
Porque faltava a única premissa que não pode faltar para conseguir comprar casa: querer fazê-lo 😅
Se fosse minha vontade, felizmente já o poderia ter feito antes porque teria condições financeiras para. Falta só mesmo a vontade, que é o mais importante.
Se surgir entretanto, trato disso e partilho aqui!
Obrigado pelas tuas partilhas! Não podemos controlar tudo na vida. Fica tranquila e… “Quanto mais dou, mais tenho!”
Obrigada eu 🙏🔥
Quando comecei a seguir a tua jornada e os teus números (no insta inicialmente) fiquei fascinada. As tuas partilhas ajudam muito e permitem comprovar que sim, é possível traçar um plano FIRE e atingir os nossos objetivos financeiros em Portugal, mantendo o foco, dedicação, esforço, empenho e muito estudo e conhecimento constante. És um dos exemplos de pessoas que me inspiraram a querer saber mais sobre os investimentos e a dar os primeiros passos nesta área. Só tenho a agradecer as tuas partilhas, aprendo muito contigo. És simplesmente incrível. Beijinhos.
Obrigada, Ana! 💜
Ajudam imenso! És uma inspiração para mim. Não pares! Já poupava e geria as despesas, apontando tudo, há muitos anos! Já tinha investido em imobiliário porque achava que era a única coisa que me tranquilizava. E tinha PPR apenas para o benefício fiscal. Mas foste um dos “gatilhos” para me atrever a investir em coisas diferentes. Estou muito satisfeita com os meus investimentos em ETFs (ACC, por agora) e P2P e tenho visto o meu Networth crescer. Fiz as minhas contas para o FIRE e adoro estar nesta jornada. Se até o caminho é bom, imagino o chegar lá e ter todo o tempo e tranquilidade. Aproveita muito!