Rendimentos passivos no FIRE Flamingo

Em dezembro de 2024 atingi o meu FIRE Flamingo e despedi-me do meu emprego a tempo inteiro como engenheira, para viver apenas do blog, da escrita e de todas as oportunidades que entretanto surgirem e me interessarem. A ideia é que estas atividades cubram todas as minhas despesas, mas gosto da minha rede de segurança e para isso um escudo de retornos com renda passiva é crucial.

Vou iniciar uma nova rubrica mensal, em que detalharei os rendimentos passivos recebidos, mas achei importante dar contexto à importância desta componente do meu portefólio nesta fase da minha jornada.

Toda a parte prática de execução do meu FIRE Flamingo foram detalhadas nestes artigos:

Estratégias diferentes para fases diferentes

Sei que muitas pessoas usam o meu exemplo prático para avaliar e tomar decisões para si próprias. Não vejo mal nenhum nisso. Eu também me inspiro em pessoas que estão mais à frente, porque não há nada a inventar neste caminho e se alguém já fez o que eu quero fazer, quero ver como o conseguiu.

Obviamente, tudo isto tem de ser acompanhado de espírito crítico. Quando leio livros americanos, sei que tenho de ter cuidado com os capítulos sobre impostos, porque o meu caso será diferente. Há decisões que pessoas na mesma jornada que eu tomam e que não fazem sentido para mim porque:

  1. Estamos em fases totalmente diferentes da jornada
  2. Temos preferências, tolerâncias ao risco ou circunstâncias diferentes

Este blog resulta de experiências e aprendizagens pessoais, por isso foi, obviamente, escrito de forma cronológica.

Comecei a escrever em 2021, em circunstâncias bem diferentes: a única fonte de rendimento era o salário a full time, tinha ambição de atingir o FIRE tradicional em 2030 e um plano de investimento totalmente focado em ativos de acumulação, sempre que essa opção existia.

Hoje, em 2025, estou a viver o FIRE Flamingo, abandonei a engenharia para me dedicar uma nova carreira na escrita, os ativos acumulativos estão a trabalhar para mim e os distributivos são a minha rede de segurança.

Isto significa que as coisas que estou a fazer agora não teriam feito o mínimo sentido para mim há quatro anos. E isto significa que também não fazem sentido nenhum para alguém que está a começar agora a sua jornada.

A ordem cronológica do FIRE é simples e, em princípio, igual para todas as pessoas. Dependendo da estratégia e ativos escolhidos, podem ser saltadas etapas, feitas em paralelo ou por ordem diferente, mas resume-se a: acumulação até ao valor FIRE, utilização daí em diante.

Fase de acumulação

A fase inicial da jornada FIRE é a de acumulação. Antes de começarmos a usufruir dos rendimentos dos nossos investimentos, temos primeiro de construir património.

Investir 100€ e esperar ter renda passiva, ou algum tipo de transformação na vida, não faz sentido. Para retornos em tempo útil para quantias de 100€, faz mais sentido investir em formação (vê aqui informação sobre cheque formação – oferta de formação), ler livros ou pagar cafés a pessoas que estão onde queremos estar e aprender com elas.

100€ de forma consistente podem, sim, ser transformadores a longo prazo. Mas temos de dar tempo. E quando queremos multiplicar o nosso capital, temos de optimizar ao máximo tudo o que pode ser optimizado:

  • minimizar custos e comissões: comissões de compra e custódia, taxas de gestão, comissões de resgate
  • optimizar impostos

Cada país tem a sua situação tributária. Em Portugal, na fase de acumulação e quando se pretende investir mensalmente sempre no mesmo ativo, não faz sentido nenhum optar por ativos distributivos quando existe uma versão acumulativa equivalente.

Um ETF distributivo obrigará a perder 28% de todos os rendimentos distribuídos anualmente, um ETF acumulativo permite manter a totalidade dos rendimentos distribuídos do nosso lado, pagando os devidos impostos apenas na venda. Pode parecer coisa pouca, porque vamos pagar impostos de qualquer forma, mas no longo prazo são valores realmente significativos.

O artigo ETF Acc vs Dist mostra a diferença entre optar por um ETF de acumulação face a um de distribuição, no longo prazo, com dados práticos para exemplificar.

O artigo PPR: não, não é só para “velhos” fala das vantagens fiscais de investir neste tipo de ativos. Benefícios fiscais à entrada e à saída que valem a pena avaliar.

Fase de utilização

Na fase de utilização estamos finalmente a colher os frutos do que plantámos anos antes. Os rendimentos tributados deixam de ser da categoria A e B, para passarem a ser de todas as outros nas quais se enquadrarem os rendimentos dos nossos ativos.

Uma vez que teremos de utilizar o património acumulado, teremos inevitavelmente de:

  1. vender ativos (realizar mais-valias e pagar impostos sobre as mesmas), e/ou
  2. receber e utilizar os juros, dividendos ou rendas pagos pelos ativos do portefólio

Estes juros e dividendos têm uma vantagem, que expliquei e demonstrei neste artigo: são bem menos voláteis que os próprios ativos que os pagam. A bolsa de valores pode cair 30% num ano e os dividendos sofrerem um corte de apenas 5%. Na fase de utilização, baixa volatilidade é uma benção.

Por isso, e como estratégia de proteção, desde sempre planeei ter uma componente significativa de ativos distributivos quando atingisse o meu FIRE.

Ainda não atingi o FIRE tradicional completo, mas pelos dois motivos anteriormente explicados faz-me todo o sentido ter esta rede de segurança, este mix entre FIRE Flamingo e FIRE barista. Não temos de encaixar numa definição já feita, mas temos de garantir que o nosso plano é adequado ao que visualizamos para nós.

Porquê rendimentos passivos agora

Os rendimentos passivos são a base de todo o FIRE. Os ativos geram rendimentos, sem intervenção ou trabalho da nossa parte, e nós temos liberdade para fazermos o que bem entendermos com o nosso tempo. Entrei na jornada FIRE em 2019 e só agora, em 2025, é que os rendimentos passivos passaram a ser uma parte importante e desejada do plano.

Em primeiro lugar, segurança:

Os rendimentos das minhas novas atividades são bem inconstantes, principalmente na escrita. Em meses de lançamento posso acumular vários milhares de euros e depois ter outros em que o que recebo não chega para pagar as despesas de alimentação.

O objetivo deste FIRE Flamingo não é trocar uma vida de stress no trabalho por stress financeiro, preocupada em como pagar as contas. Nada é garantido e a renda passiva não cobre a totalidade das despesas (caso contrário já estaria no FIRE), mas quanto maior a percentagem de despesas essenciais cobrir, melhor.

Em segundo lugar: medo de transformar o paixão numa obrigação

Esta é, talvez, a minha maior preocupação. O medo de, com a pressão de passar a ser o que agora me paga as contas, deixar de gostar de fazer o que antes me fazia extremamente feliz.

Uma coisa é fazer por entretenimento, como hobby. Se ganhar algo com isso, perfeito! Se não, não há problema. Há um emprego que me paga as contas. Agora, quer me apeteça quer não me apeteça, tenho de fazer porque passou a ser o ganha-pão.

Até agora não foi um problema, porque não há nada que preferisse estar a fazer. Mas nada me garante que assim permaneça no futuro, por isso, quanto menor o valor que precisar de ganhar, menor a probabilidade de isto acontecer.

O funcionamento das minhas contas atualmente

A ideia do FIRE Flamingo é:

  • trabalhar para pagar as despesas (rendimentos = despesas)
  • deixar os investimentos continuarem a trabalhar, sem mexer neles (nem retirar nem adicionar)

Ora, eu acho difícil acertar com exatidão os rendimentos e despesas. Ou se te um emprego fixo com salário igual todos os meses, ou fica complicado. No meu caso, e apesar de ter começado há muito pouco tempo, já tive meses a ganhar mais do que preciso e outros em que os rendimentos não chegaram para pagar as contas.

A forma como estou a abordar as minhas finanças atualmente segue a seguinte lógica:

  • se os rendimentos forem superiores às despesas:
    • se tiver menos que 12.000€ na almofadinha, reponho o valor;
    • se tiver o valor correto na almofadinha, invisto esse valor em ativos distributivos.
  • se os rendimentos forem inferiores às despesas:
    • utilizo o valor da almofadinha;
    • utilizo rendimentos passivos que tenham caído na conta nesse mês.

Não vou gastar mais só porque sim (se tiver excedente, invisto) e não vou deixar de fazer nada por não ter ganho o que era suposto nesse mês (uso o património que acumulei).

A seta azul da imagem acima só acontece quando há excedentes de poupança e a almofadinha está cheia. A seta amarela só acontece quando os rendimentos ativos não foram suficientes para cobrir as despesas.

Um lembrete necessário

De vez em quando tenho de deixar aqui uma atualização da fase em que estou e do que me trouxe até aqui, porque tenho pessoas novas no blog e no instagram todos os dias (olá! 👋).

Estamos juntos na jornada, mas muito provavelmente em fases muito diferentes. Por isso, da mesma forma que não me faria sentido fazer agora o que fiz há 6 anos, quando estava a começar, também não faz sentido a quem está a começar agora fazer o que quem está a viver o seu FIRE Flamingo está a fazer.

Obviamente há sempre o disclaimer de: isto é a minha experiência, não é recomendação de investimento. Mas além desse, achei que seria necessário outro, para garantir que tudo está claro.

Em que fase da jornada estás? Já adaptaste o teu plano a situações e circunstâncias diferentes?

Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog resulta de opiniões pessoais e tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.

Todos os investimentos têm risco. Resultados passados não são garantia de rentabilidades futuras. Faz sempre a tua própria análise antes de fazer qualquer investimento.

3 thoughts on “Rendimentos passivos no FIRE Flamingo

  1. Olá Dama, acho que o teu blog é uma fonte de inspiração! Muitos parabéns! Relaciono-me imenso com o que escreves, mas tenho uma visão diferente: Eu acredito que a jornada até à independência financeira não varia penas da fase onde estás, mas também da tua situação profissional, rendimentos e visão da vida. No meu caso eu trabalho por conta própria e os meus rendimentos são muito inconstantes. Além disso tenho uma filha pequenina, pelo que para mim, apesar de estar na fase de acumulação, precisei ter uma renda passiva, para me sentir mais confortável no turbilhão da inconsistência. Assim durmo melhor. Facto é que quero acumular, mas precisei fazer um esforço inicial em algo distributivo também. O que faço com esse dinheiro é um pouco o que dizes: se faturar muito uso para investir, se faturar pouco uso para as despesas do dia-a-dia e fico muito mais confortável com isso.
    Quanto à nossa ocupação ser uma “obrigação”, eu não sinto nada isso. E acredito que não sentirás. Trabalho no que gosto há algum tempo, abri a minha própria empresa em 2018 e sinto-me muito realizada por estar a traçar um caminho só meu, seguindo os meus ideais. É duro, incerto, mas também pode ser uma alavanca na jornada, pois há possibilidade de receber valores maiores de uma vez só, que dificilmente consegues sendo assalariado.
    Beijinhos e muita força

    1. Olá!

      Olha que eu acho que concordamos em tudo ahah
      Porque a tua visão da vida e situação profissional vão mudar ao longo do tempo (normal que assim seja) e a abordagem vai mudar com ela.
      Foi precisamente isso o que tentei transmitir: não só cada pessoa tem ideias e vontades diferentes de outras pessoas, como a própria pessoa irá mudar de abordagem várias vezes ao longo da vida, porque as suas próprias circunstâncias também irão mudar com o tempo.
      Espero continuar a gostar muito, como acontece contigo!

      Beijinhos e obrigada pela mensagem

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