A minha avozinha, com o cérebro mais fresco que o meu mas com o corpo cansado e obrigada a passar o dia na cama a ver TV, dizia-me: “não percebo nada do dinheiro hoje em dia, só falam em milhões”.
A verdade é que se ligares a TV num canal noticiários há uma grande probabilidade que no ecrã, algures no título da notícia ou no rodapé, apareça a tal referência aos milhões de euros. Pode ser referente à compra de um jogador de futebol, à dívida de um banco ou à receita de um post de instagram de uma das Kardashians.
Como é que nos sentimos quando confrontamos todos esses zeros (à direita) com o nosso orçamento mensal de 3 dígitos? Podemos desanimar, podemos até pensar em desistir. Ser rico parece uma realidade tão distante que começamos a achar que provavelmente o esforço de poupar nem compensa.
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Afinal o que é ser rico?
Lê a questão e pensa uns minutos na tua resposta.

Algumas ideias do que te pode estar a passar pela cabeça neste momento:
- Ter muito dinheiro
- Ter um salário de 3000 €
- Ter carros de luxo
- Comprar tudo o que quiser
- Ter uma casa com piscina
- Jantar em restaurantes caros
- Vestir roupa de estilistas
- …
Provavelmente acertei em algumas. Parte de ti concorda com grande parte ou até com todas as afirmações.
A título pessoal, do ponto de vista de uma pessoa que já mudou a sua opinião relativamente ao tema e abordagem ao dinheiro, posso dizer que não concordo com nenhuma das acima mencionadas. Podem até ser aplicáveis a casos específicos, mas não à generalidade, principalmente na realidade da classe média/baixa em que 99% da população mundial se insere.
Isto é, se eu for rica posso ter/fazer todos os pontos acima mencionados. No entanto, ter/fazer qualquer um dos pontos não implica ser rico.
Ser ou Parecer
Uma pessoa que tenha/faça qualquer uma das acima, pode facilmente parecer rica sem o ser:
- Muitos vencedores de lotarias tiveram muito dinheiro num dado momento e gastaram-no, voltando ao estado inicial;
- Um salário de 3000 € com estilo de vida que acompanhe esses valores, está a um mês de ficar com balanço zero, caso fique sem o emprego;
- Qualquer pessoa pode comprar um carro com crédito de 20 anos e taxas de juro exorbitantes. O mesmo se aplica a uma casa, que não será nossa até que a acabemos de pagar ao banco.
A pressão da sociedade e a vontade de mostrar que estamos bem na vida induz escolhas inconscientes que por vezes vão até contra os nossos princípios e ideais, na expectativa de sermos reconhecidos e nos sentirmos importantes.
O dinheiro deve ser visto como um meio e não como um fim. Por que motivo queremos ganhar muito dinheiro? Em que medida é que ter muito dinheiro nos fará mais felizes? O que mudaria na nossa vida se tivéssemos uma fonte inesgotável de dinheiro?
A minha riqueza
Em 2019 a minha visão sobre o dinheiro mudou. Sempre fui educada para poupar, tenho um emprego com um salário acima da média da realidade portuguesa, e comecei a pensar no propósito de poupar e na finalidade que poderia dar a esse dinheiro. Não fazia sentido poupar para viajar ou para comprar fosse o que fosse, porque já viajava o que o tempo livre me permitia e tinha todos os bens materiais de que necessitava.
Comecei a ler sobre o assunto, primeiro em blogs e artigos de poupança, mas sentia que não era o suficiente. Tudo o que lá estava eu já fazia. Então dei o passo seguinte: ler sobre investimentos, rendimentos passivos e, finalmente, independência financeira. E todos os livros, testemunhos, blogs e experiência própria levaram-me a redefinir riqueza:
- Ter rendimentos passivos que cubram as despesas mensais
- Ter liberdade e tempo livre para dedicar às coisas de que se gosta
Para mim, ser rico é então ter rendimentos passivos que cubram as minhas despesas e tempo e saúde para os aproveitar.
O número FIRE
Quando definimos como objetivo atingir a liberdade financeira o primeiro passo é calcular o valor FIRE. Este é o número mágico que temos de ter investido para assegurar as nossas despesas a 100%.
O cálculo mais consensual, com base na regra dos 4%, é simples e rápido:
Valor FIRE = Despesas anuais X 25
Sempre que apresento este valor surgem sempre muitas questões associadas. Respondo aqui às principais:
Não – o 25 nada tem a ver com o número de anos em que estarás reformado. Multiplicar por 25 é o mesmo que dividir por 4%, e mais simples.
Não – não podes vender todos os teus investimentos quando atingires o FIRE. O valor tem de estar investido, vendes apenas o que vais precisando no período que definires (ex: mensal ou anualmente).
Sim – o estudo teve em conta a inflação real no período em análise (bem superior à atual em Portugal)
Não – o valor não é estático nem uma regra incontornável e obrigatória. Pode e deve ser recalculado à medida que as condições se alterem e ajustado ao teu perfil de investidor e tolerância ao risco.
Com este número obtém-se um bom ponto de partida para começar a traçar o plano e a estabelecer prazos para atingir a independência financeira.
300.000 €
No meu cálculo considero 1000 € de despesas mensais, o que se traduz num valor FIRE de 300.000 €.
A minha primeira reação foi…
Como assim não preciso de milhões? Isto não é assim tanto!
A segunda foi…
Eu quero isto! Como é que eu consigo chegar lá? Quanto tempo demoro?
Tempo é dinheiro
Para não exagerar na dissertação de hoje, deixo para próximos artigos a descrição detalhada do Trinity Study e o meu plano para atingir este valor.
BONS INVESTIMENTOS!
Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.
8 thoughts on “Regra dos 4% – Tu não precisas de 1 milhão”