Sabias que se pode usar o PPR para pagar prestações da HPP (habitação própria permanente) sem qualquer penalização, mesmo tendo usado os benefícios fiscais à entrada?
Verdade! É uma das condições de utilização previstas na lei e portanto não representa qualquer tipo de penalização.
Pressupostos
Vamos considerar o exemplo da Maria:
- A partir dos 25 anos, a Maria começa a investir num PPR fundo. Investe 2000 €/ano, porque concluiu que é o valor máximo para obter o máximo reembolso fiscal.
- Repete o investimento no PPR, no mesmo montante, durante 10 anos (até aos 34). Depois dessa data não faz mais reforços.
- Aos 35 anos compra casa a meias com o seu parceiro. A casa custa 120.000 €, dos quais 90% – 108.000 € são financiados pelo banco através de crédito habitação com as seguintes condições: 1,5% de taxa fixa, prazo de 360 meses. À Maria cabe então a despesa mensal de 186 €, metade da prestação do crédito acima referido.
- Dos 35 aos 39 anos (5 anos), a Maria paga normalmente as prestações do crédito habitação.
- A partir dos 40 anos e até ao término do crédito, a Maria utiliza o valor acumulado no seu PPR para pagar as prestações mensais.
Custos totais da casa para a Maria se pagar a casa normalmente:
- Entrada: 120.000 € * 10% / 2 pessoas = 6.000 €
- Prestações do crédito habitação: 186 € * 12 meses * 30 anos = 66.960 €
Total: 6.000 € + 66.960 = 72.960 €
Custos totais da casa para a Maria se investir no PPR:
- Entrada: 120.000 € * 10% / 2 pessoas = 6.000 €
- Investimento no PPR: 2000 € * 10 anos = 20.000 €
- Deduções do PPR no IRS: – 400 € * 10 anos = – 4000 €
- Prestações do crédito habitação: 186 € * 12 meses * 5 anos = 11.160 €
Total: 6.000+ 20.000 – 4.000 + 11.160 = 33.160 €
Usando a estratégia do PPR a Maria precisa apenas de poupar 45% do valor da sua casa! Mais de metade é pago pelo dinheiro que o dinheiro investido gerou 💰
Optimização fiscal e juros compostos
Mas então como é que apenas 16.000 € poupados e investidos durante 10 anos conseguem pagar 25 anos de prestações do crédito habitação no valor de 75.888 €?
Optimização fiscal
Quando incluído na declaração de IRS, o PPR tem a vantagem fantástica de poder reembolsar até 20% do valor investido por ano, dentro dos limites máximos.
Como se considera que a Maria consegue obter o reembolso máximo, por cada 2.000 € investidos em cada ano a Maria recebe 400 € para investir no ano seguinte. Assim, em vez de ser necessário poupar 2.000 € por ano para investir no PPR em cada ano, considera-se que a Maria poupa apenas 1.600 € e investe também o valor do reembolso de 400 € (que de outra forma não receberia).
Em vez de 20.000 €, a Maria poupou apenas 16.000 € e reinvestiu o reembolso obtido no IRS (4.000 €).
Juros compostos
Considera-se uma taxa média de retorno de 5,5% para o valor investido no PPR fundo.
2.000 € investidos no ano zero, não considerando qualquer reforço, crescem exponencialmente ao longo do tempo – como se vê na tabela abaixo.
Ano | Valor acumulado |
---|---|
1 | 2.000 |
2 | 2.110 |
3 | 2.226 |
4 | 2.348 |
5 | 2.478 |
6 | 2.614 |
7 | 2.758 |
8 | 2.909 |
9 | 3.069 |
10 | 3.238 |
11 | 3.416 |
12 | 3.604 |
13 | 3.802 |
14 | 4.012 |
15 | 4.232 |
16 | 4.465 |
17 | 4.711 |
18 | 4.970 |
19 | 5.243 |
20 | 5.531 |
21 | 5.836 |
22 | 6.156 |
23 | 6.495 |
24 | 6.852 |
25 | 7.229 |
26 | 7.627 |
27 | 8.046 |
28 | 8.489 |
29 | 8.956 |
30 | 9.448 |
31 | 9.968 |
32 | 10.516 |
33 | 11.095 |
34 | 11.705 |
35 | 12.348 |
A Maria investe os primeiros 2.000 € aos 25 anos e só começa a pagar as prestações do crédito habitação aos 40, 15 anos depois. Nessa altura os 2.000 € investidos transformaram-se em 4.465 €.
Pagando todas as prestações do crédito habitação (2232 €) + imposto de 8 % sobre metade do valor retirado (89 €), sobram ainda 2.144 €.
No ano seguinte, a Maria ainda pode utilizar os 2.144 € que sobraram do ano anterior e que entretanto também valorizaram para 2.251 € (2.144*1.05=2.251 €).
Entretanto, os 2.000 € que a Maria investiu aos 26 anos estão também há 15 anos investidos e por isso também já valorizaram para 4.465 €. Desta vez, como sobraram ainda 2.144 € do ano anterior, o valor investido no PPR no segundo ano é suficiente para pagar prestações durante 3 anos.
O raciocínio é o mesmo nos anos seguintes.
O custo acumulado em habitação para a Maria é apresentado na figura abaixo.

Como a explicação pode ser confusa, deixo aqui o ficheiro de Excel que utilizei para fazer as contas:
Vê se com os números fica bem esclarecido e se tiveres dúvidas deixa nos comentários 👇
Bons investimentos!
Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.
Olá,
Muito obrigada pelo post e excel tão esclarecedor. Tenho apenas uma dúvida: porque é que os 8% de imposto são apenas sobre o metade do valor retirado (neste caso os 2232)? Não deveria ser sobre o valor total retirado?
Obrigada!
Olá!
Os impostos são aplicados apenas às mais valias.
Portanto, dos 4232 € acumulados, 52% são mais valias e 48% são valor investido inicialmente.
Como só se retira 2232 € por ano, só metade desse valor será tributado: 2232/2*8% = 89 €
Ahhh claro!! Já estava a querer pagar mais impostos 🤦♀️
Obrigada!!
Isso é que não ehehe
Desculpa voltar ao tema mas mais uma dúvida ainda em relação aos impostos: porque fizeste 8% dos 2232*0.5 ao invés de 8% dos 2232*0.52 (considerando que as mais valias são 52%)? Obrigada 🙂
É só mesmo para simplificar. A minha veia de engenheira a vir ao de cima 😅
Olá Dama de Ouros 🙂
Obrigada pelo post e Excel. Estive a ver e tentar compreender o Excel e tenho uma questão: Eu percebo que no caso da primeira prestação o valor do imposto seja apenas sobre cerca da metade do valor total (4232), dado que cerca de metade foi o que lá pus (2000 euros), e o resto mais valias (2232), mas será sempre assim? Porque no caso das últimas prestações pagas com o ppr a percentagem de mais valias já será muito superior aos 50%, logo o valor submetido a imposto de selo não deverá ser superior aos 50%?
Obrigada 🙂
Olá Marta!
é pouco provável que num exemplo real as mais-valias sejam exatamente 50% do valor acumulado. Isto é apenas um exemplo ilustrativo com base em estimativas para demonstrar uma boa forma de usar os PPRs usufruindo dos benefícios fiscais à entrada.
É certo que é provável que mais à frente haja mais mais valias, ou então não. Repara que o valor que retiras no primeiro ano foi dinheiro que esteve investido 10 anos. No segundo ano, usas o valor que investiste no segundo ano, mas também ele esteve investido 10 anos. Por isso se a rentabilidade for a mesma todos os anos, neste caso específico as mais valias andarão sempre perto dos 50%.
Quando tiver os meus dados reais partilho 🙂
Sim, sim, certo. A minha questão era mais relacionada os valores que retiro para pagar as últimas prestações, que estarão investidos mais tempo e, consequentemente, terão mais mais valias. Mas já percebi que este foi apenas um exemplo e que simplificaste em relação a isso 🙂
No entanto, fez-me pensar no FIRE porque lembro-me que num post anterior que fizeste (sim, andei a lê-los todos e acho que tens feito um excelente trabalho :)) dizeres que inicialmente, quando atingisses o FIRE, terias cerca de 50% valor poupado + 50% mais valias obtidas. Contudo, e corrige-me se estiver errada, ao longo do tempo, e considerando os 40+ anos de reforma em que não investes, irás acabar por ter muito mais % de mais valias, logo maior valor a pagar em impostos e o teu valor inicial de 1000euros mensais será inferior com o tempo devido aos descontos.
Sim, a relação mais valias/valor investido vai aumentar mesmo muito ao longo dos anos, isso é 100% certo!
Mas também não acho que os impostos sejam um problema assim tão grande porque duas coisas podem acontecer: atinjo o FIRE e continuo a trabalhar (o que significa que não vou precisar de utilizar 1000 € dos investimentos e eles continuam a crescer ainda mais) ou atinjo o FIRE e reformo-me mesmo, o que significa que posso “englobar” o valor dos investimentos e pagar muito menos que 28% de impostos.
Mesmo que os 12.000 € retirados anualmente fossem tudo mais-valias a tributar, estaria num escalão mais baixo de IRS e ainda com possibilidades de deduções à coleta para baixar mais.
Vamos indo e aprimorando o plano eheh
Certo 🙂 Obrigada
*Imposto de selo não, imposto normal
Uma outra questão, porque é que no caso da última prestação de todas subtrais o valor no ppr pelo valor da prestação/0.92? Obrigada 🙂
Subtraio o valor de prestação/2/0.92 precisamente para descontar também os impostos pagos sobre 50% do valor retirado, que assumo serem mais-valias 🙂
E porque não continuar a reforçar o PPR até à reforma, não o utilizando para pagar as prestações do crédito à habitação?
É que se continuarmos a usar a premissa dos 5,5% da taxa média de retorno, parar de reforçar e retirar para pagar o crédito à habitação é na realidade perder dinheiro..
Só perdemos o dinheiro se a alternativa ao valor extra que passamos a não gastar na prestação da casa tiver rentabilidade inferior à do PPR 5,5%.
Se começarmos a usar o PPR para pagar a prestação e usarmos o valor da prestação para ir jantar fora mais vezes, é claro que financeiramente não faz sentido, mas não é isso que pretendo fazer.
Olá. Estou a iniciar-me no mundo dos investimentos, a ler por enquanto. Já tenho um fundo PPR há 5 anos com 8.000 investidos no entanto tenho apenas 7.200€ + os benefícios do IRS. O saldo é positivo pois usufrui dos benefícios fiscais… mas é quanto aos juros compostos? Começo a achar que não foi um bom investimento…
É o PPR prudente do Santander
Olá!
Os juros compostos hão-de estar aí incluídos.
Pode fazer sentido fazeres uma nova análise aos PPRs existentes e perceberes se esse continua a ser o que faz mais sentido para ti. Se não fizer, é só transferir para outro, sem stress 🙂
Olá! Estou a ler o blog de fio a pavio e tenho aprendido imenso. Parabéns e obrigada por partilhares este conteúdo.
Relativamente a este artigo, fiquei com uma dúvida, porquê só começar a utilizar o PPR para pagar as prestações do crédito habitação depois de 5 anos? Há alguma regra que assim o exija? Ou podemos começar a utilizar logo no início do crédito habitação?
Olá Tânia!
Oh, obrigada pela mensagem! Fico feliz por saber que estás a gostar 🙂
Certo, há uma regra que obriga à permanência mínima de 5 anos, para se poder usar o PPR para esse fim.
Permanência mínima de 5 anos de PPR certo? Não é obrigatório ter também o crédito de habitação há pelo menos 5 anos?
Certo, a obrigação é na antiguidade do PPR