Recebi uma herança. Sou uma impostora?

Pode parecer estranho a quem nunca passou por isso (é o meu caso), mas já percebi que é sentimento comum entre pessoas que receberam de alguma forma dinheiro ou bens de parentes e estão na jornada FIRE.

Vamos inverter o cenário

Neste momento podemos ser jovens e filhos, e eventualmente vir a receber ou ter recebido já algum tipo de herança. No entanto, um dia seremos nós os idosos e pais, provavelmente com a intenção de deixar um legado, uma ajuda ou um miminho para as gerações seguintes.

Uma das preocupações principais dos que se iniciam no mundo das finanças pessoais já com filhos é precisamente como investir por eles. Recebo semanalmente dezenas de perguntas sobre isso:

  • Como investirias se tivesses um filho?
  • Onde colocarias dinheiro para usar aos 18 anos de idade?
  • Que entidades aceitam abrir contas para menores?
  • Qual a forma mais eficiente de investir para crianças?

As variações são muitas, mas a base é sempre a mesma: pais preocupados com o futuro dos filhos, que querem que as suas vidas sejam nem que seja um pouquinho mais simples e com menos desafios do que as suas foram ou estão a ser.

Querem poder ajudá-los em alturas determinantes e cada vez mais complicadas. Pode ser para estudar, comprar um carro, comprar uma casa, construir um negócio, enfim… Qualquer coisa que facilite a sua vida e permita oportunidades que de outra forma não teriam.

Uma questão de perspectiva

Imagina o que estes pais pensariam se soubessem que existe uma possibilidade (ainda que pequena) de os filhos receberem esse dinheiro com culpa!

Em vez de ser algo que usam e usufruem para facilitar a sua vida – como foi intenção dos pais ao amealhar e passar esse valor ou bem para eles – é um peso que carregam e que causa mal-estar e desconforto.

Imagino a sensação de confusão de quem oferece este tipo de presente ao perceber que a reação foi precisamente a oposta. Desconforto em vez de felicidade; ansiedade em vez de tranquilidade.

Se tens esse sentimento de culpa, experimenta colocar-te do outro lado, o de quem dá. Como gostarias que o presente que deixas para gerações futuras fosse recebido? Que impacto gostarias que tivesse?

Contrariar os demónios

Bem sei que entre dizer e o fazer há um longo caminho a ser percorrido. E, em muitas situações, mesmo que saibamos que não faz sentido, os sentimentos continuam a assombrar-nos.

Sempre que surgirem, lembra-te da origem do que agora parece um problema: um ato de amor e de generosidade de pessoas que gostam muito de ti e que quiseram tornar a tua vida mais simples.

Não sei se ajuda, mas não custa tentar 💜

Cada jornada é única

Não partimos todos do mesmo ponto para a jornada FIRE. Alguns descobrem-na mais tarde na vida, outros nascem em famílias com grande literacia financeira e metade do caminho já está percorrido. Alguns partem com dívidas, outros já com algumas poupanças. Alguns fazem-na sozinhos, outros com famílias numerosas a seu cargo.

Há vários tipos de privilégios e condicionantes que mudam todos os números e resultados. Receber uma herança é apenas uma de muitas.

Gender gap é real, há zonas do país em que o metro quadrado de habitação custa 10x mais do que outras, o acesso a educação superior implica investimento monetário que nem todos podem pagar. E depois há a sorte: estar no local certo à hora certa, para ter acesso a pessoas e oportunidades que podem acelerar o crescimento.

Muito do FIRE é trabalho, mas outro tanto é sorte, acasos que não escolhemos nem controlamos, e é também ajuda de pessoas que querem o nosso bem. 🫶

Se achas que alguém precisa de ler isto, manda-lhe o link e um xi-❤️

7 thoughts on “Recebi uma herança. Sou uma impostora?

  1. Excelente artigo. Cada um de nós tem a sua história, o seu percurso, a sua realidade e todas são válidas. O não ser merecedor é uma crença que assombra muitos de nós e que precisa de ser trabalhada para atrair abundância para as diversas áreas da nossa vida, não só financeira 👏

  2. Estou muito agradecida por este post, Dama de Ouros, tens razão!🥰
    Não devemos deixar estes pensamentos negativos alojarem-se dentro de nós, as vantagens que temos são bênçãos, não fardos.💛

  3. O meu lema é dar um pouco mais daquilo que recebo ( bens imateriais ,como o amor, a educação e outros… e os bens materiais, como a doação de um apartamento, carro e outros… ) é doar os mesmos bens aos filhos ,mas com um valor acrescentado ( se não for a 23%, que seja a 13 ou a 6%).
    Querida, “Dama”, obrigado pela sua partilha.

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