Ambos estão relacionados com o fogo, mas um não implica necessariamente o outro.
O movimento FIRE tem como objetivo a conquista da liberdade financeira e possÃvel reforma antecipada. Consegue-se através de uma taxa de poupança elevada (tipicamente acima de 30%), que paralelamente é investida para se ir multiplicando.
O burnout, em português, esgotamento, é uma doença mental resultante do stress, desgaste e cansaço extremo.
Há um equilÃbrio?
A duração da jornada FIRE depende exclusivamente da taxa de poupança. Quanto maior for, mais rapidamente chegamos à liberdade financeira, e menos expostos estamos relativamente a fatores externos que não conseguimos controlar.
O aumento da taxa de poupança consegue-se de duas formas: diminuição das despesas ou aumento dos rendimentos. Idealmente, uma combinação dos dois.
Significa isto que devemos então aproveitar todas as horas do nosso dia para trabalhar e aumentar rendimentos? Na minha opinião, não. Não estou, nem nunca estive, disposta a trocar tempo de qualidade com amigos, famÃlia ou sozinha a fazer coisas que gosto, por mais uns euros a entrar na conta ao final do mês.
Para fundamentar esta minha posição tenho de relembrar a base do FIRE e o motivo fundamental que me move para o perseguir: LIBERDADE.
Não me faz sentido trocar (mais) horas do presente por horas do futuro, principalmente quando já passo 40 horas de cada semana a fazê-lo.
Sei que os rendimentos são extremamente importantes, e por isso a minha abordagem sempre foi dar o máximo no meu trabalho, aprender todos os dias e ser a melhor profissional possÃvel. Mostrar que sou uma mais valia para a empresa e fundamentar, com números perfeitamente objetivos, os ganhos diretos do meu trabalho. Com isto, fui construindo ao longo dos anos uma carreira e um salário que me permitem atingir os meus objetivos financeiros (neste caso, o FIRE), dentro de um perÃodo temporal que me deixa satisfeita.
Podia trabalhar mais e chegar ao FIRE mais cedo? Podia. Mas compensaria? Não, de todo.
O perigo dos extremos
Como em tudo na vida, seja no trabalho extra, exercÃcio fÃsico ou nas dietas, as abordagens radicais rapidamente perdem fulgor e depressa regressamos ao ponto inicial.
Não é sustentável passar de couch potato para sete sessões de ginásio por semana. Dietas mirabolantes depressa são substituÃdas pelos hábitos anteriores, ou até piores, para compensar. Trabalhar cada hora do dia, pode, a médio prazo, originar problemas graves de stress e cansaço, que numa situação extrema poderão obrigar a parar por completo a atividade e regressar à estaca zero.
Da mesma forma, não é sustentável construir um plano FIRE de 10 ou 20 anos com base em 60 ou 80 horas de trabalho por semana. Será difÃcil aguentar e muito difÃcil comprovar que este sacrifÃcio enorme valerá a pena no final.
O valor do tempo
No mês passado li um livro – Die with Zero – que me trouxe uma nova visão de tudo isto. Do tempo, do dinheiro, e do valor das experiências e bens materiais em cada fase da nossa vida.
O nosso tempo é bem mais precioso quando somos mais novos, porque conseguimos aproveitar de forma muito mais intensa certas experiências. Da mesma forma, o dinheiro que poupamos numa fase inicial da carreira tem pouca relevância numa fase mais tardia, quando o salário triplicou ou quadriplicou.
O que é que isto significa, em termos práticos?
Que se aos 21 anos apenas conseguimos poupar 100€ por mês e temos oportunidade de ir passar um fim-de-semana fora com amigos a acampar e conviver por esse mesmo valor, provavelmente deverÃamos fazê-lo. Porque aos 35, com um salário bem superior e filhos pequenos em casa, 1) os 100€ que poderÃamos ter poupado aos 20 não fazem assim tanta diferença; 2) a vida atual não nos permite ir passar esses fins de semana fora, porque já ninguém tem disponibilidade, e a oportunidade perdida não pode ser recuperada.
Se tenho de decidir entre gastar 1500€ numa viagem para esquiar, ou investir esse valor para o FIRE daqui a 15 anos, e adiar a viagem para essa altura, provavelmente deveria gastar esse dinheiro agora. Porque não vou, de forma alguma, aproveitar essa atividade da mesma forma aos 30 e aos 45.
Outro exemplo muito engraçado que o autor dá prende-se nas heranças. A maior parte das pessoas constroem um património para deixar aos filhos, que passa para a sua posse quando morrem. A visão do autor neste tema – morrer com zero – não tem nada a ver com gastar tudo de forma inconsciente, mas sim em oferecer essa herança aos filhos/netos quando ainda estamos vivos e numa fase em que esse dinheiro tem mais impacto nas suas vidas.
Em vez de deixar milhares de euros para um filho que está nos 50/60 e tem a vida praticamente resolvida (pode ser um bom bónus, mas não vai mudar assim tanto), porque não oferecer esse valor aos 25/30, quando pode fazer realmente a diferença?
A jornada tem de valer a pena
A jornada FIRE é longa. Tipicamente 10, 15, 20 anos, ou até mais. Será que prefiro atingir a liberdade financeira daqui a 12 anos, sabendo que não terei fins-de-semana livres até lá, ou daqui a 15, com tempo de qualidade com a minha famÃlia e amigos?
Se não construir hobbies e uma rede de pessoas e atividades que me façam acordar com energia todos os dias, como serão os meus dias quando atingir o tão desejado objetivo e tiver todo o tempo disponÃvel para mim?
A minha visão sempre foi essa e só tem vindo a ser reforçada. Cada vez mais valorizo o meu tempo e sou consciente das minhas decisões. Cada euro e minuto têm de ter um significado, porque são demasiado valiosos para serem deixados ao acaso.
Então e a tua renda extra?
Provavelmente estás a aperceber-te de incongruências no meu discurso. Digo que não estou disposta a trabalho extra, e depois apresento 1000€ de rendimentos extra salário por mês, num artigo escrito no meu horário de almoço. 🤥
Olha para o que digo e não para o que eu faço? Não, não é esse o caso.
A questão dos meus rendimentos extra é que são completamente involuntários, nada planeados e resultado de atividades que ADORO fazer. Escrever este blog, escrever um livro e passar tempo no instagram a conversar com outros apaixonados pelo FIRE é um hobby. Comecei em 2020 e, durante dois anos, fi-lo sem qualquer remuneração (como acontece com todos os hobbies).
Depois, sem que o procurasse ativamente, comecei a receber dinheiro. Por links afiliados, por patrocÃnios e por publicidades. Tudo de coisas que já fazia antes e continuaria a fazer mesmo que continuasse sem receber dinheiro em troca.
Sou uma sortuda por isto ter acontecido. Reconheço que acelerou muito o meu caminho para o FIRE e que até me trouxe novas possibilidades (como uma mudança de carreira). Mas o que quero frisar neste artigo é que o FIRE chegaria na mesma, em 2030, caso isto não tivesse acontecido! Na verdade, estes rendimentos inesperados foram apenas um imprevisto que causou desvios (positivos) ao meu plano.
Tudo isto aconteceu porque comecei a construir nos meus tempos livres o que espero ser a minha vida no FIRE. Se estivesse focada em aumentar os rendimentos desde o inÃcio, este artigo não existiria, o blog continuaria a ser um sonho e o livro só seria escrito em 2030.
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Tudo o que acabei de escrever aqui está no episódio que partilho em seguida. Vou tentar fazer sempre os dois formatos, para poder alcançar o máximo número de pessoas 🔥
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Como defines os teus limites e a gestão da gratificação imediata e do futuro?
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O que achas de investir em ETFs de Metaverso e inteligência artificial (dizem que é o futuro), e como ver qual o melhor? Quais os indicadores? Obrigada!
Olá!
A minha estratégia é simplificar ao máximo e não tentar adivinhar o que será o futuro. Investir em tudo e esperar para ver o que acontece 🙂
Vê este artigo sobre Como escolher ETFS, acho que te pode ajudar
Obrigada!
Olá,
gostei do texto e ainda mais do podcast, para mim faz todo o sentido reduzir as despesas ao máximo mas sem comprometer oportunidades de experiências únicas.
Ainda não tive oportunidade de ler o teu livro, esta ideia está lá incorporada? Ou farias um capÃtulo novo com este conceito s eo escrevesses hoje?
P.S. Já passei dos 40 e continuo a conseguir esquiar 10h/dia 😉
Olá!
Não tinha lido este livro quando escrevi o meu, mas sempre tive esta abordagem às poupanças: cortar no que é superficial, nunca no que nos faz felizes.
Por isso vai um bocado de encontro à filosofia deste livro e deste post!
Eu nunca esquiei, por isso limitei-me a citar o autor eheh