Rendimento fixo: o que está por trás da nova oferta da Trade Republic

A Trade Republic lançou um novo produto chamado “Rendimento Fixo” e, por ser novidade está a oferecer +1% de juros até ao final do ano em todos os novos investimentos neste produto, se feitos nos próximos 23 dias. Mas será mesmo um produto novo? 👀

Como sabes, eu acredito que as Obrigações têm um papel fundamental na jornada FIRE. Tanto na fase de acumulação, como nos objetivos de médio prazo, como depois na fase de utilização de património.

Por isso, quando vi esta novidade da Trade Republic, fiquei super curiosa. Não é exatamente tudo novo, mas é apresentado de forma nova, que pode simplificar a vida do investidor. Neste artigo, patrocinado pela Trade Republic, reuni toda a informação que acredito ser importante para tomarmos decisões informadas.

Afinal, o que é o “Rendimento Fixo” da Trade Republic?

A Trade Republic basicamente reuniu num só sítio diferentes tipos de produtos de obrigações:

  • obrigações corporativas,
  • obrigações governamentais,
  • e fundos de obrigações com data de maturidade definida, aos quais chamou “Juro fixo”.

É neste último produto que encontramos a primeira novidade: os fundos de obrigações apresentados têm data de maturidade definida. Isto significa que no final do prazo apresentado, o fundo encerra e os valores investidos são devolvidos aos investidores. Isto é totalmente diferente do que acontece nos ETF de obrigações simples, em que são continuamente adicionadas novas obrigações ao cesto, sempre que há dinheiro para reinvestir.

Na prática, há algumas vantagens: com este produto “juro fixo” temos a certeza de receber um determinado valor numa data pré-definida. Já num ETF de obrigações, temos de vender as posições para recuperar o dinheiro.

A segunda novidade é que agora se pode investir diretamente em obrigações em dólares (USD), algo que antes não estava disponível na Trade Republic. Isto pode ser interessante, porque as obrigações americanas pagam taxas de juro mais altas do que as europeias. Claro que também traz o risco cambial, mas já lá vamos.

Produto “Juro Fixo”

Um dos maiores problemas dos investimentos de “renda fixa” transacionados no mercado secundário é que o seu valor de mercado não é, afinal, fixo. Existe volatilidade, associada a taxas de juro e a outros fatores, e essa insegurança pode agravar-se quando não existe uma data de maturidade definida. O fundo compra e vende títulos perpetuamente, sem uma data prevista para devolver o capital, por isso a única solução para reaver o capital é vender ao preço de mercado no momento em que quiser aceder ao dinheiro.

Estes produtos com maturidade fixa que a Trade Republic aqui apresenta resolvem este problema e combinam a simplicidade e a diversificação de um ETF com a previsibilidade de uma obrigação individual. As suas características principais são:

  • Diversificação imediata: Investem num cabaz diversificado de obrigações de empresas, tipicamente de boa qualidade (investment grade), diluindo o risco de incumprimento de um único emissor.
  • Data de vencimento fixa: Tal como uma obrigação tradicional, o fundo tem uma data de maturidade predefinida.
  • Liquidação automática: Na data de vencimento, o fundo é liquidado e o capital final é devolvido aos investidores.
  • Simplicidade e liquidez: Podem ser comprados e vendidos em bolsa como uma ação, oferecendo liquidez diária antes da maturidade.

Uma análise aos fundos disponíveis

Quando abrimos a seccção de juro fixo, podemos aplicar filtros para encontrar mais facilmente produtos dentro dos critérios que nos fazem sentido.

  • Duração: 1 a 2 anos, 2 a 4 anos, 4 a 10 anos;
  • Moeda: EUR, USD

Sem aplicar qualquer filtro, escolhi aleatoriamente dois fundos para fazer uma análise mais aprofundada. Os vencedores da roleta foram:

  • iShares iBonds Dec 2026 Term $ Corp UCITS ETF (ISIN: IE0007UPSEA3)
  • iShares iBonds Dec 2034 Term $ Corp UCITS ETF (ISIN: IE000VVBM1F6)

São, tal como os ETF de obrigações, cestos compostos por vários produtos, transacionados em bolsa, que vão pagando juros ao longo do tempo. No entanto, estes terminam numa data definida.

  • ISIN: IE0007UPSEA3 – termina a 31/12/2026, cerca de 1 ano até à maturidade
  • ISIN: IE000VVBM1F6 – termina a 2/12/2034, cerca de 9 anos até à maturidade

Podemos sempre vender os fundos, no mercado secundário, uma vez que são transacionados em bolsa como qualquer ação ou ETF. Caso fiquemos com os produtos até à maturidade, as unidades são automaticamente resgatadas: não precisamos de fazer nada, o dinheiro fica automaticamente disponível na conta (tal como acontece nos Certificados de Aforro ou do Tesouro quando o prazo termina).

A diferença entre eles está essencialmente no prazo, na frequência de distribuição e no risco:

CaracterísticasiBonds 2026iBonds 2034
DuraçãoCurto prazo (1 ano)Longo prazo (9 anos)
Juro fixo2,67%4,57%
RiscoBaixo (2/7)Médio-baixo (3/7)
MoedaUSDUSD
Custos anuais~0,15%~0,17%
Tipo de empresasInvestment gradeInvestment grade
DistribuiçãoTrimestralSemestral

Ambos investem em obrigações de empresas sólidas (investment grade), cotadas em dólares, e seguem critérios ESG, ou seja, excluem setores como tabaco, armas, carvão, etc.

O facto de o fundo mais longo ter risco maior está relacionado precisamente com a sua duração: quando fixamos uma taxa de juro por períodos mais longos, temos riscos de oportunidade inerentes às possíveis alterações de taxas de juro que poderão acontecer nesse período. Por esse motivo também, a taxa de cupão oferecida é superior, para atrair investidores e equilibrar a relação risco/benefício.

“Rendimento fixo” vs. depósito a prazo

Porque pode haver confusão entre ambos e também porque podem ser opções para os mesmos objetivos financeiros, vou fazer uma breve comparação com um produto que todos conhecemos: depósitos a prazo.

CaracterísticaDepósito a prazoRendimento fixo (TR)
RendimentoFixo e garantidoVariável (depende das taxas e do mercado)
RiscoQuase nulo (garantido pelo FGD até 100 000 €)Baixo a médio (sem garantia de capital)
LiquidezDinheiro bloqueado até ao fim, ou acessível com perda dos juros acumuladosPodemos vender e resgatar o dinheiro quando quisermos, sem prejuízo dos juros já recebidos
MoedaEuro (o mais normal)Dólar (USD)
Rentabilidade típica1–3%/ano2–4%/ano (mas pode variar)

O termo “renda fixa” gera sempre confusão e acho mesmo importante voltar a relembrar: embora o juro (ou cupão) pago por uma obrigação individual seja, de facto, fixo, o valor dessa obrigação no mercado secundário pode oscilar ao longo do dia. Apesar de ser chamado de “rendimento fixo”, não é um produto com capital garantido. É fixo na medida em que os juros pagos são conhecidos à partida, mas existem sempre riscos associados.

Estas oscilações dependem maioritariamente das taxas de juro de mercado.

  • Quando as taxas de juro sobem, o valor das obrigações existentes cai.
  • Quando as taxas de juro descem, o valor das obrigações existentes sobe.

No caso das obrigações e fundos cotados em dólares, a rentabilidade é mais alta, mas existe o risco de oscilações resultantes do câmbio.

Obrigações e FIRE: podem coexistir?

Obrigações podem ser o aliado perfeito para optimizar a jornada FIRE, quando utilizadas na dose certa.

O paradoxo da segurança a longo prazo

Nas nossas contas FIRE, utilizamos como base a regra dos 4%. O Trinity Study, que originou esta regra, analisou dados históricos para determinar a percentagem do património que um reformado poderia levantar anualmente, com uma elevada probabilidade de o dinheiro não se esgotar durante um período de 30 anos.

A conclusão mais engraçada? A carteira 100% “segura” pode, na verdade, ser a mais arriscada na reforma. Os dados revelaram que um portefólio com 100% de obrigações teve uma taxa de sucesso de apenas 6% ao aplicar a Regra dos 4%. Em contraste, um portefólio composto por 75% em ações e 25% em obrigações teve uma taxa de sucesso de 92%.

Esta aparente contradição expõe uma verdade fundamental: o verdadeiro risco numa reforma a longo prazo não é a volatilidade diária do mercado, mas sim o esgotamento do capital. Uma carteira excessivamente conservadora pode não gerar retornos reais suficientes para superar a inflação ao longo de décadas, levando a que o poder de compra e o capital se esgotem prematuramente.

Risco é a probabilidade de ter menos dinheiro ao longo do tempo. – Scott Trench

O estabilizador que potencia os ganhos

Por outro lado, a ideia de que as obrigações são apenas para investidores conservadores é um mito. Na verdade, para um investidor com um perfil arrojado, as obrigações não são um travão para os retornos, mas sim um estabilizador estratégico que permite aproveitar a volatilidade a seu favor.

A Teoria do Portefólio Moderno (MPT) defende que a diversificação com ativos de baixa correlação é fundamental para otimizar a relação risco-retorno. Como, historicamente, o comportamento das ações e das obrigações é frequentemente oposto, o rebalanceamento pode ter um papel importante na jornada FIRE.

As obrigações da nossa carteira são, além do amortecedor de quedas, numa espécie de “fundo de oportunidade”. A tática que uso para escolher o investimento do mês tem precisamente esta base e permite-me: manter-me fiel à estratégia de alocação de ativos definida, ignorando o ruído externo e comprando ao melhor preço, de forma disciplinada e sem ter de (tentar) adivinhar o futuro dos mercados.

Assim, mesmo para investidores agressivo, as obrigações não são um peso morto nem um ativo que atrasa a jornada, mas sim uma ferramenta que proporciona a liquidez e a estabilidade necessárias para aproveitar todos os momentos do mercado a nosso favor.

No meu livro FIRE com Obrigações, aprofundo a importância das obrigações:

  • na fase de acumulação, para reduzir a volatilidade e proteger ganhos,
  • na fase de utilização do património, para garantir que tens liquidez e previsibilidade nos levantamentos.

Conclusão

As obrigações são uma classe de ativos muito mais útil e estratégica do que a sua reputação de “investimento seguro” sugere. É verdade que uma carteira de 100% em obrigações pode ser desastrosa para a reforma, mas também que são uma ferramenta tática para investidores arrojados.

Quer tenhamos perfil conservador ou arrojado, compreender todas estas estas nuances é essencial para construir um portefólio otimizado para os objetivos a longo prazo.

Vale lembrar, porque nunca é demais, que fixo não significa garantido e que todos os investimentos têm risco. O que “fixo” significa é que as taxas de juro a receber são conhecidas à partida; se a empresa/governo terá condições para nos pagar os valores devidos, isso já é outra história.

Achei este novo produto super interessante, e uma boa opção para a componente de menor risco do portefólio. Nesta fase da minha jornada em que me estou a focar exclusivamente em ativos que distribuem dividendos ou juros, este produto “juro fixo” enquadra na perfeição.

FAQ – Perguntas Frequentes sobre o “Rendimento Fixo” da Trade Republic

O que é afinal o “Rendimento Fixo” da Trade Republic?

É uma nova secção da app onde encontras obrigações corporativas, obrigações governamentais e fundos de obrigações com data de maturidade definida (os chamados “Juro Fixo”).
Ou seja, não é bem um produto novo, mas sim é uma forma nova de apresentar obrigações, com uma experiência mais simples e direta.

É seguro investir em rendimento fixo?

Tem risco baixo a médio (calculado 2 a 3 em 7), mas não é garantido.
O capital investido pode oscilar com as taxas de juro, com o mercado ou com a variação do dólar (no caso das obrigações em USD).
“Fixo” refere-se aos juros conhecidos à partida, não à garantia do retorno.

Qual é a diferença entre “rendimento fixo” e um depósito a prazo?

O depósito a prazo é garantido (até 100 000 €) e o dinheiro, na maioria dos casos, fica bloqueado até ao fim.
O rendimento fixo é investimento na bolsa de valores, pelo que podes vender quando quiseres. A desvantagem é que estás também sujeito à volatilidade da bolsa: o valor pode subir ou descer.

O que muda com as obrigações em dólares (USD)?

As obrigações americanas pagam juros mais altos do que as europeias, no entanto trazem consigo o risco cambial: se o dólar desvalorizar face ao euro, o retorno em euros pode ser menor.

Faz sentido para quem está na jornada FIRE?

Sim! As obrigações são parte essencial de qualquer plano FIRE equilibrado e optimizado.
Ajudam a reduzir a volatilidade, preservar ganhos e dar estabilidade na fase em que já vives do teu património. Como detalho no livro FIRE com Obrigações, quando usadas na dose certa fazem toda a diferença.

Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.

Todos os investimentos têm risco. Resultados passados não são garantia de rentabilidades futuras. Faz sempre a tua própria análise antes de fazer qualquer investimento.

Este artigo é patrocinado pela Trade Republic.

11 thoughts on “Rendimento fixo: o que está por trás da nova oferta da Trade Republic

  1. Muito bem explicado! Quando tive conhecimento deste “novo” produto da TR também fiquei curiosa e este artigo esclarece muito bem em que consiste.

  2. Olá!

    Antes de mais, parabéns por esta publicação 🙂

    Recentemente reparei que o IBAN da TR mudou, e desde que passei a ter um saldo superior a 10k na conta, quando tento ver em que banco parceiro está o meu dinheiro na app, dá um erro. Antes, dava para ver que o dinheiro que tinha na conta estava no Citibank e protegido pelo fundo de 100k.
    Confesso que esta falta de transparência do banco me está a preocupar – por acaso sabes de um email de suporte que se possa contactar? Infelizmente, o email que encontrei disponível no site já não funciona.

    Obrigada e continua com o conteúdo incrível 🙂

    1. Olá Inês,
      Podes ver qual o banco apartir do Swift code com uma simples pesquisa no Google.
      Julgo que a mudança de Iban deve-se à passagem do dinheiro para contas no próprio banco Trade Republik, apesar de não indicar qual o banco podes confirmar com nas iniciais do Swift. Foi o que aconteceu no meu caso.

  3. Boa tarde, Obrigada pelo artigo. Permaneci com uma pequena duvida que pode fazer uma grande diferença. Do que percebi, o valor investido pode não corresponder ao montante que nos é devolvido na maturidade, certo? Atualmente tenho subscritas, através de uma instituição bancária, obrigações da Mota Engil e de alguns clubes de futebol. Investi, imaginemos, €30.000. Recebo juros fixos pagos semestralmente e, na maturidade, é-me devolvido o valor total dos €30.000. No caso dos produtos de taxa fixa da TR, existe o risco de investir €20.000 e, mesmo mantendo o investimento até ao final do período, receber apenas €15.000?

    1. Olá!

      Percebo o que estás a dizer! Normalmente, em mercado secundário, podes comprar acima ou abaixo do preço inicial, que definirá quanto será devolvido no final.
      Neste caso, na minha interpretação, a TR faz o cálculo do “juro fixo” já tendo em conta aquilo que vais receber no final + os juros durante esse período. Ex: os juros pagos até podem ser de 5%, mas se compraste acima do que vais receber no final, o juro apresentado pode ser de 2% para compensar essa perda no final.

  4. Ola ! Relativamente ao cashback e ao round-up da TR… Sabes se podem ser aplicados no meu plano poupança?
    Relativamente ao round-up, em que difere o “multiplicado por dois” ou o “multiplicado por dez” em termos de custo? onde é que a Trade Republic ganha com essa diferença?

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