Escudo de retornos

A minha estratégia de proteção para o FIRE (e, antes disso, de preparação para a saída antecipada do meu emprego rumo a um FIRE Flamingo/Barista) inclui ter uma boa parte do património em ativos de distribuição. Com isto garanto que tenho um fluxo consistente de dinheiro a entrar na conta, independentemente de a bolsa e restantes ativos estarem em altas ou em baixas.

O ideal seria que esse escudo cobrisse todas as despesas básicas recorrentes: casa e comida. Dessa forma, da mesma forma que agora tenho de gerir e cortar despesas quando estamos desempregados ou numa situação financeira mais débil, também em caso de crise prolongada poderia cortar apenas nas coisas mais supérfluas, garantindo que as despesas essenciais estavam asseguradas. Tudo isto sem comprometer o plano FIRE.

Fontes de renda passiva

Este escudo pode incluir ativos de várias classes e tipos:

A nível de P2P já tenho o meu portefólio bem composto: cerca de 20% do valor total. Estou bem diversificada entre Mintos, Goparity, Peerberry, Robocash, com uns pozinhos na Estateguru e Crowdestor também. Com este investimento já consigo consistentemente mais de 130€/mês – 13% do valor FIRE programado nos cálculos mais recentes.

A nível de depósitos, estou a usufruir dos juros de 3,5% na Trade Republic.

Para tudo o resto, o meu tipo de investimento preferido é através de ETF. Seja ações, REIT ou obrigações, darei (quase) sempre preferência aos ETF. Permitem-me investir de olhos fechados, de forma 100% automática, sem me preocupar com o mercado ou as notícias.

ETF para renda passiva

Há uns anos escrevi um artigo precisamente com este título: Seis ETF para renda passiva. Para este artigo analisei única e exclusivamente o dividend yield – taxa de dividendo.

O propósito deste artigo foi mostrar que existem ETF a pagar dividendos realmente bons. Agora, quando faço uma análise mais aprofundada à situação, a conclusão é a mesma.

Para termos um escudo de retornos verdadeiramente útil não nos podemos limitar a comprar exatamente os mesmos ETF que antes, com a modalidade de distribuição em vez de acumulação. Não é um ETF distributivo que siga o índice S&P500 que vai fazer qualquer tipo de diferença nesta estratégia.

A título de exemplo, nos últimos 5 anos, o dividend yield do VUSA, ETF que replica o S&P500 esteve sempre abaixo de 1,5%. À data de hoje está em 1,05%. Isto significa que para receber em média 100€/mês teria de ter investido 114.000€.

38% do valor FIRE para receber 10% do dinheiro necessário por mês, no meu caso. Uma matemática que não compensa.

Fonte: Dividend data, 4/09/2024.

Se o objetivo é receber bons juros ou dividendos, temos de procurar índices focados exatamente nisso.

Pesquisar melhores opções ETF

O ponto de partida mais fácil é procurar informação que alguém já tratou e condensou por nós, e depois fazer uma análise aprofundada ao que se revelar interessante.

O Google apresenta-nos milhares de sites que respondem às nossas perguntas, principalmente se as fizermos em inglês. Dos milhares de resultados obtidos, uso sempre que possível como fonte o site justetf, para aumentar a probabilidade de o ETF que me interessa estar disponível para mim.

Acontecia-me imensas vezes, nas minhas leituras, ficar interessada num ETF qualquer que o autor referia, apenas para descobrir depois que não estava disponível em Portugal. 🙃 o justetf apresenta apenas ETF disponíveis na Europa, por isso há uma menor probabilidade de desilusão. Ainda assim, como veremos agora, não é garantia de sucesso.

Para REIT, encontrei algumas opções nesta lista que cumprem os meus critérios de escolha de ETF: grande volume, TER qb baixa, segue índice diversificado e taxa de dividendo acima de 3%.

A mesma pesquisa para Obrigações devolveu-me estas opções, todas com taxa de juro média superior a 5% nos últimos anos:

A mesma pesquisa para ações resultou numa vasta lista de opções com taxas de dividendo acima de 5%:

Pesquisei estas opções nas corretoras que utilizo atualmente (Trade Republic e Degiro) e muitos deles não estão disponíveis lá. Esta lista inicial resumida serve apenas de ponto de partida, para se conhecer os índices existentes e as taxas de juro/dividendo que se podem esperar, e depois há que ver opções alternativas que estejam disponíveis em corretoras a operar em Portugal.

As vantagens das ações portuguesas

Nunca investi em ações individuais, porque vai totalmente contra a estratégia de investimentos passiva que pretendo ter e manter.

No entanto, ações individuais portuguesas detidas em entidades também nacionais apresentam vantagens fiscais bem interessantes: apenas metade dos dividendos são tributados em IRS. Isto significa, visto de outra forma, que a taxa de imposto é de 14% em vez de 28%.

Fonte: Como declarar os investimentos no IRS? Conheça as regras, site CGD

Uma taxa bruta de 5% de dividendos transforma-se em 3,6% líquida caso seja tributada a 28%, e em 4,3% caso seja tributada a 14%. É uma diferença bem significativa e que faz todo o sentido considerar!

Fazendo uma pesquisa rápida, encontrei o top 10 a nível de taxa de dividendo:

Fonte: Tradingview

A análise não se pode ficar apenas pela taxa de dividendo, obviamente, e é necessário confirmar os custos de deter estas ações num banco em Portugal, para ter a certeza que a poupança nos impostos compensa os custos adicionais.

Exemplo: investimos 1000€ na REN, portanto recebemos 63,5€. O imposto a pagar é de 8,89€, em vez dos 17,78€, se comprássemos a ação numa corretora estrangeira. Esta poupança de 8,89€ só compensa se os custos anuais de custódia, manutenção e tudo isso no banco português forem inferiores a esse valor.

Neste caso, provavelmente não compensa. Para valores superiores, talvez.

Outro exemplo: em vez de 1000, investimos 10.000€ na mesma ação. Os dividendos são então de 635€, os impostos de 178€ caso esteja numa plataforma estrangeira e 89€ caso esteja em plataforma portuguesa. Neste caso, é mais provável que a poupança em impostos compense o aumento de custos do banco face a uma corretora low cost.

Esta não é uma abordagem que queira seguir neste momento, mas deixo aqui a informação porque é muito interessante e não é muito falada.

Porquê esta preocupação agora

Eu acabei de dar o salto para o FIRE flamingo. Aiiiii

Dei o meu aviso de 60 dias e, no início de dezembro, passarei a semi-reformada 😎 A única coisa que me causa um pouquinho de ansiedade é o medo de não conseguir pagar as minhas despesas todas com a escrita, apesar de as últimas contas dizerem que não terei problemas.

Ainda assim, sei que ficarei bem mais tranquila se tiver pelo menos parte das minhas despesas asseguradas. Pelo menos 400€, que é o meu valor de sobrevivência atual. Praticamente tudo o resto é opcional e consigo viver sem, por isso se conseguir garantir estes 400€ em renda passiva, posso viver o FIRE flamingo com muito mais tranquilidade.

Para ter 270€/mês (já tenho 130€ das P2P), é necessário ter investido:

  • 108k€ se a taxa de dividendo for 3%;
  • 81k€ se a taxa de dividendo for 4%;
  • 64,8k€ se a taxa de dividendo for 5%;
  • 54k€ se a taxa de dividendo for 6%;
  • 46,3k€ se a taxa de dividendo for 7%.

O meu plano é, então, direcionar os meus investimentos destes últimos meses para ativos que me paguem renda passiva, para garantir a tranquilidade de que preciso para avançar para a próxima fase da vida FIRE.

Opções do momento

O que eu já tenho:

Se as taxas e valores investidos se mantiverem, tenho 175 €/mês brutos.

Neste momento (vou continuar a pesquisa nos próximos dias), tenho 3 ETF debaixo de olho:

1000€ investidos significam um rendimento bruno anual (com base na informação que tenho) de:

  • 55€ no primeiro;
  • 65€ no segundo;
  • 68€ no terceiro.

É mais uma ajuda para dar segurança à nova fase que me espera, no FIRE Flamingo, por isso é sem dúvida muito bem vinda. 🙌

Tens ativos de distribuição na tua carteira?

Disclaimer: A autora do blog Dama de Ouros não fornece recomendações ou aconselhamento financeiro. Todo o conteúdo presente neste blog tem apenas fins informativos e educacionais, sendo qualquer decisão de investimento da responsabilidade do leitor.

6 thoughts on “Escudo de retornos

  1. Parabéns pela decisão. Vai correr tudo bem 🙂

    Só uma pergunta em relação aos dividendos. Sempre torci o nariz a ETFs distributivos. Pelo menos no nosso sistema fiscal não creio que façam sentido. Chegaste a ponderar vender todos os menos uma % de ETFs acumulativos, para chegar ao valor que precisas? Confesso que não fiz contas detalhadas para ver se vale a pena, mas sempre tive a ideia que podemos sempre “transformar” um acumulativo em distributivo ao vender % todos os meses.

    Mas a tua ideia é continuar a reforçar os acumulativos, certo? Sendo assim, também ponderaste usar uma parte do reforço para as despesas e reforçando menos sem necessitar dos distributivos?

    1. Olá!

      Muito obrigada 😁
      O problema da venda é que está sujeito às oscilações da bolsa. Neste artigo mostrei as variações no valor das UP e as variações nos dividendos/juros pagos, no mesmo período. Estar 100% sujeito à venda de ativos implica vender com prejuízo, em alturas de quedas sérias. Apesar de haver quedas nos dividendos, nunca são tão significativas.

      Se estivermos a falar de impostos, então também vai dar ao mesmo: se recebermos dividendos, pagamos impostos, se vendermos ativos, pagamos impostos também sobre as mais-valias. Certo que é menos valor, mas a desvantagem da volatilidade não compensa os euros poupados, na minha opinião.

      A ideia do FIRE Flamingo é não investir mais. Se continuar a investir, então é porque o plano está a correr muuuito melhor do que eu pensava e estou a ganhar mais dinheiro do que o necessário 😅

  2. Olá!
    Seguindo o raciocínio do comentário anterior, vamos dar um exemplo, levantar 5000€ brutos por ano.
    No mesmo etf 100k investidos variando de DIST e ACC, num ano:
    • DIST paga 5% de dividendos – 100k + 5k.
    • ACC reinveste os 5% dos dividendos – 105k.
    Contas:
    • No DIST, recebes 3600€ de lucro líquido depois dos 1400€ de impostos.
    • No ACC (5000/105000)*5000*0.28=66.6€, recebes 4933.4€ de lucro líquido depois dos 66.6€ de impostos.
    Acho que não me enganei nas contas, no final ficas com 100k investido em cada uma das situações. Mesmo assim achas que não compensa optar sempre por ACC?

    1. Olá!

      Tudo certo nessas contas. O problema é que o valor de cada ETF não cresce linearmente à mesma taxa todos os anos. Em anos em que o valor das UP caia 20%, vais ter de vender uma percentagem muito mais significativa dos teus ativos e, se isso acontece nos primeiros anos de utilização, inviabiliza por completo todo o plano.
      Os juros e dividendos, apesar de oscilarem na mesma ano após ano, têm uma volatilidade muito mais baixa.

      Se estás na fase de acumulação, sem dúvida não compensa ter os dividendos. Há imensos artigos aqui a demonstrar isso (este por exemplo ). Agora, se o objetivo é consistência, segurança e tranquilidade, é bem mais fácil consegui-lo com a distribuição.
      Há sempre um preço a pagar, só temos de escolher qual preferimos eheh

  3. Olá!

    A estratégia de ter tudo acumulativo mais uma reserva em dinheiro para 4/5 anos (em CA, prazo, etc) para usar em caso de quedas fortes do mercado, consideraste ?
    Não estou a dizer que é melhor, só gostava da opinião de quem está neste ponto, porque estou neste mesmo dilema também.
    Obrigado!

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